quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Movimentação no trabalho de parto

Já ouviu falar em parto ativo?

Isso não significa que você vá correr a meia maratona durante o seu trabalho de parto, não, fique tranquila. Parto ativo significa, simplesmente, que você não vai ter uma postura passiva no processo de contrações e dilatação, mas vai - seguindo seu instinto - se movimentando: andando, rebolando, agachando, dançando e o que mais sua imaginação e sua vontade permitirem.

Liberdade de movimentos é um dos segredos para a boa evolução de um parto e para que ele seja prazeroso. A mulher, por instinto, se movimenta, vejam o exemplo da Gabi agachada durante essa contração. Sem que ninguém diga nada a ela, ela balança o quadril de um lado para o outro, para frente e para trás, faz meio que um "S"...



A movimentação da pelve da mãe ajuda muito o bebê a ir se acomodando, descendo, encaixando, encontrando o caminho dele para nascer. Muito se fala sobre o poder de uma boa caminhada, de reboladas e de agachamentos. Eu, honestamente, prefiro uma trilha sonora que a mulher curta dançar. Naturalmente as reboladas, agachadas e movimentos sinuosos aparecem, hehe, além de ser muito mais divertido e descontraído, relaxando não só o corpo como a mente. Infelizmente eu não consegui gravar, mas com 7cm de dilatação Gabi e o marido estavam dançando ao som de Aviões do Forró. Desopila, movimenta, ativa. Uma delícia!

É bom também ter em mente quais são os grandes inimigos de um parto ativo. O primeiro é o bendito do soro. Gente, em um parto normal, o soro só é necessário no caso de a mulher não estar conseguindo se alimentar / beber água, esteja fraca, etc. Num trabalho de parto em que a mulher se alimenta, se hidrata, para que soro? O problema não é o soro em si, mas ter no braço algo que limita seus movimentos, que não te permite andar livremente, agachar livremente, enfim, te prende e te tira a liberdade de movimentação, principal elemento de um parto ativo. Então sim, vale a pena recusar o soro até que você efetivamente precise dele. O segundo inimigo de um parto ativo é a própria estrutura dos hospitais. Quando a mulher em trabalho de parto dá entrada no hospital (principalmente nos particulares, viu?!), o processo até a liberação de um quarto é longo, e geralmente essa mulher fica num box de enfermaria. Trata-se de um espaço muuuuito restrito - dá para perceber no vídeo de Gabi também - e cercado de doenças. Tudo a ver, né, o nascimento de uma criança e um ataque cardíaco?! Affff.... Mas enfim, o espaço restrito dificulta a movimentação da mulher, e muito. O terceiro inimigo de um parto ativo é a tradição hospitalar de a mulher parir deitada. O que não falta é evidência científica de que é A PIOR POSIÇÃO EVER para se parir, ainda há hospitais que colocam a mulher para parir em posição ginecológica, tolhindo a liberdade de movimentação no momento em que ela é mais necessária do que nunca: o período expulsivo.

Eita! Chega de falar de coisa ruim! As dicas para um parto ativo, funcional e maravilhoso são:

1. Descanse quando precisar - não é porque o parto é ativo que você precisa ficar se mexendo sem parar. Os períodos de descanso são importantíssimos para você ter energia nas horas certas.

2. Ouça o que o seu corpo pede - há movimentos que certamente serão sugeridos pela sua doula porque favorecem o trabalho de parto. Independentemente disso, de sentir vontade de levantar uma perna, levante; se quiser balançar suavemente, balance. Faça o que o seu corpo te manda fazer. Nunca esqueço o trabalho de parto de Alice: foi longo, intenso, difícil. Lá pelas tantas ela parou numa posição mega estranha - deitada, barriga pra cima, mas uma perna dobrada de modo que ela ficou bem "torta" na cama. E foi nessa posição "esquisita" que o pequeno grande Arthur chegou ao mundo. O corpo sabe o que fazer, é instinto, confie nele.

3. Coma! Como é que você vai conseguir ter um parto ativo se não tiver energia? Muito suquinho, colocate, açaí, mel, castanhas... Muitos alimentos de fácil digestão e que conferem muita energia.

4. Trilha sonora - antes do parto, já monte uma playlist de músicas felizes, "pra cima", que te façam querer se mover. Parto é festa, parto é chegada de nova vida, temos que celebrar, e uma boa música faz seu corpo se mexer o tempo todo.

5. Encontre parceria real - tenha com você alguém que tope de uma caminhada a ir descendo na boquinha da garrafa. Alguém alto astral, que consiga tornar seu trabalho de parto um momento alegre!

É isso, gravidinhas e futuros papais. Vamos nos mexer, que assim as coisas fluem muuuuito melhor!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Sobre o parto domiciliar


A Organização Mundial de Saúde afirma que o melhor lugar, o lugar correto para parir é aquele em que a mulher se sinta mais segura e confortável. Ao longo da história humana, as mulheres sempre pariram em casa. Às primeiras dores, chamava-se a parteira, que se dirigia à casa da mulher e a auxiliava durante o trabalho de parto. Essa parteira não tinha nenhuma vocação acadêmica específica para acompanhar o parto, mas aprendia o ofício geralmente com a avó, com a mãe e com a própria prática. A partir do momento em que se entende que parir é um evento fisiológico (ou seja, natural, como comer, fazer cocô ou transar), percebe-se que a função da parteira era principalmente encorajar e auxiliar a mulher, além de socorrer caso alguma coisa saísse do planejado.

Com a evolução da medicina, o local de parto, nos centros urbanos, foi transferido para os hospitais. O protagonismo feminino no parto foi substituído pelas instruções médicas e o nascimento passou a ocorrer principalmente no ambiente hospitalar. Como vantagens, tem-se, obviamente, uma gama de medicamentos, profissionais e equipamentos para socorro em caso de emergência. Como principal desvantagem, a meu ver, tem-se o aumento vertiginoso do número de cesarianas e a visão do parto como algo extremamente perigoso.

Cada trabalho de parto é único, como cada mãe, como cada bebê. Eventos que antes eram encarados com naturalidade, como uma bolsa que se rompe ou uma parada no ritmo das contrações, hoje são encarados logo como sinal de alerta, e a pressão em torno da parturiente torna-se muito maior. A liberação de adrenalina é um dos fatores que mais dificulta o trabalho de parto, e a tensão decorrente da imposição de tempo de trabalho de parto muitas vezes faz com que a dilatação não evolua.

Parir não é perigoso. A própria medicina está aí para provar isso. Ao comparar-se os números de partos normais e cesarianas, percebe-se que a via cirúrgica apresenta muito mais risco à saúde de mãe e bebê do que o parto normal. Em mulheres que tiveram uma gravidez tranquila, com exames sempre ok, com feto bem posicionado, o risco é muito, muito pequeno mesmo. Sim, essa mulher tem total condição de ter seu bebê em casa mesmo, acompanhada por uma boa equipe.

Ainda existem as parteiras tradicionais, sim, aquelas que aprendem com as antigas e acompanham partos com um saber não acadêmico, mas pautado na prática; mas existem também as parteiras modernas, enfermeiras obstetras ou obstetrizes, que tem total preparo tanto acadêmico quanto prático para acompanhar partos. As parteiras modernas levam para a casa da mulher todo o material necessário para socorro imediato (como oxigênio, material de sutura, etc.) e acompanham a mulher na gravidez de modo que tenham já elaborado um plano B caso alguma coisa não saia conforme o planejado. Ninguém deseja levar a ideia do parto natural até as últimas circunstâncias, não! A segurança é prioridade. Se algo não estiver saindo conforme o planejado, transfere-se a mulher para um hospital.

Eu passei pelas duas experiências. Minha primeira filha, Alice, nasceu em hospital particular; Heitor, meu caçula, nasceu em casa. Do nascimento da Alice, minhas boas lembranças foram a presença da minha irmã, do meu tio, da minha prima e da minha doula. Sou dessas, me sinto segura quando estou cercada pelas pessoas que eu amo, e a médica e a equipe do hospital abriram exceção para que meu parto se tornasse uma festa. Porém, me senti extremamente pressionada, como se minha barriga fosse uma bomba relógio prestes a explodir caso a criança não nascesse logo; os batimentos cardíacos da Alice foram auscultados uma única vez durante o trabalho de parto e o aparelho de pressão da sala de parto estava quebrado. Além disso, minha filha foi separada de mim ao nascer e foram feitos vários procedimentos que considero, além de desnecessários, invasivos e cruéis. Heitor nasceu em casa, acompanhado pela equipe Luz de Candeeiro. Não tenho nenhuma lembrança desagradável do trabalho de parto, parto e pós-parto. Fui respeitada, acolhida, abraçada e cuidada. Me senti completamente segura, pois as parteiras a todo tempo monitoravam minhas contrações e os batimentos cardíacos do Heitor. Quando ele nasceu, foi examinado no meu colo e pesado e medido ao meu lado, na minha cama. Eu tenho plena confiança de que em gravidez de risco habitual o parto domiciliar é mais seguro do que o hospitalar.

Para terminar, quero deixar duas imagens. A primeira, é da minha família, na minha cama, e foi tirada cerca de 8 horas após o nascimento do Heitor. Todos juntos, não nos separamos em momento algum. Descansados, felizes, gratos. A segunda imagem é um convite da equipe Luz de Candeeiro, que foi a que me acompanhou, para uma roda de conversa sobre o parto domiciliar, para quem quiser saber um pouco mais sobre esse assunto.




quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O eterno drama do corpo

Eu sempre me achei gorda. Sempre. Até quando eu tinha esse corpo (sou a da esquerda, de pé levantado, com essa sandália medonha):


Desde que me entendo por gente faço dietas. Ao engravidar, engordei módicos 30 quilos. A meta da mulherada é 9-10 quilos, e eu engordei 30. Emagreci 10 sem muita dificuldade, fiz dieta e emagreci mais 10 e pimba! Engravidei de novo! Engordei mais 20. Fiz Herbalife, emagreci tudo o que engordei da segunda gravidez e pá! Engordei tudo de novo. Quase 20 anos e 35 quilos separam essa menina da foto da mulher abaixo, que sou eu hoje:


É isso mesmo, estou começando esse post com um "antes e depois" às avessas. Estou exibindo, muito claramente, o peso que ganhei ao longo de 20 anos e duas gravidezes. Seguem mais algumas fotos:


É isso. Tem barriga, muita barriga e barriga flácida. Tem estria, tem celulite, tem culote, tem pneuzinho. E eu seria incrivelmente hipócrita se dissesse que nada disso me incomoda nunca. Se dissesse que é legal procurar roupa e não achar nada que caia bem. Não é isso que estou dizendo, gente. Estou dizendo que esse é o MEU CORPO, e que ele é o resultado da geração de duas crianças lindas e saudáveis, além, claro, da ingestão de muitas coisas deliciosamente cheias de gordura e açúcar. Não sou magrinha, mas continuo me achando bem gostosa... tenho peitão, bundão, cintura... Tenho um marido que com todas as mudanças do corpo me deseja do mesmo jeito (na verdade mais hoje), continuo recebendo cantada dos homens... Quero emagrecer? Até quero. Nunca até o corpo daquela garotinha ali de cima que um dia fui eu, mas gostaria de emagrecer uns 5-10 quilos, para perder essa papadinha ali que acho feia pra caramba. Mas preciso emagrecer? NÃO PRECISO. Meus exames estão muito bem, obrigada, inclusive melhores do que de muita gente magrinha que eu conheço. Se minha saúde está maravilhosa, qual é o outro motivo pelo qual eu DEVERIA emagrecer?

Aí eu fico pensando muito. Com 35 quilos a menos eu já me achava gorda, já era cheia de complexos. Será que o problema está na barriga ou na cabeça? Gente... fico louca com o tanto de mulheres magras, lindas, sofrendo porque estão 5 quilos acima do peso! Fazendo dietas radicais porque querem ter o corpo da panicat da TV... Já pararam pra pensar na vida de merda que essas mulheres devem levar? Com certeza sem a cervejinha, sem o doce, malhando infinitamente e certamente usando muitas drogas para conseguir aguentar tudo isso sem surtar... Não, gente... Não quero isso pra mim, não...

Tá, Elisa, mas esse blog é sobre gravidez, parto e maternidade... Que que tem isso a ver? T-U-D-O. Como doula, principalmente nesse início de ano (quando bate a culpa alimentar pelo Natal, ano novo e viagem de férias) vejo as mulheres grávidas apavoradas porque engordaram 7 quilos em 24 semanas... Comparando o quanto a outra engordou, apavoradas... Será que é o momento desse tipo de preocupação? A preocupação com uma alimentação saudável tem que existir sim, é claro, pela saúde de mãe e bebê, mas é o número de quilos que reflete isso ou são os exames que a mãe faz a cada trimestre? Por outro lado, mulheres que tiveram bebê há menos de 6 meses desesperadas com seus quilos a mais, suas estrias, seus peitos... Será que é o momento desse tipo de preocupação? A barriga cresceu durante nove meses, um bebê morou ali dentro e está há menos tempo fora da barriga do que passou dentro dela... Há um bebê demandando atenção 24 horas, uma vida profissional chamando, uma casa, um companheiro... Será que é a hora de querer ter o corpo dos sonhos de volta? Será que não é mais saudável olhar-se no espelho reconhecendo as marcas da gravidez e sentir um pouco de gratidão por esse corpo mágico que gerou uma vida? Mais tarde, quando o bebê já estiver um pouco mais independente, quando a vida profissional estiver minimamente em ordem de novo, quando a mulher estiver confortável com a nova vida e a nova rotina, aí sim, gente, e só aí, é hora de preocupar-se com a estética. E sabendo que muito dificilmente o corpo será o mesmo, até porque a mulher não é a mesma. Agora ela é mãe. Um novo status, uma nova vida, um novo corpo.

Vamos tentar aceitar melhor nossas mudanças? Ninguém tem 14 anos para sempre... Querer ter o mesmo corpo é insano, gente... Que tal aprendermos a nos amar, do jeito que somos?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Gabriel

Gabriela me ligou por volta das 3h dizendo estar sentindo contrações de 4 em 4 minutos. Não esperávamos o Gabriel para antes do dia 10, inclusive a despedida de barriga dela seria hoje na nossa roda, mas parto normal tem dessas coisas: quem sabe a hora certa de vir melhor do que o bebê? 
Emoticon smile
Como ela ainda não havia completado as 38 semanas, o plano original de ir para a casa de parto foi por água abaixo e ela optou por um hospital particular coberto pelo convênio dela, então combinamos de nos encontrar no Santa Helena. Cheguei lá às 6h, e já comecei com muito estresse: ela havia sido admitida, estava naqueles boxes da emergência e, como a irmã dele estava junto, não quiserem me deixar entrar apesar da lei garantir à mulher o direito e acompanhante E doula. Fiquei então sem nenhuma notícia dela, esperando a ouvidoria abrir para fazer barraco. Após toda a discussão, mil ligações, mil tudo, finalmente consegui entrar.
A Gabi estava com 5cm de dilatação, bem tranquila, dores suportáveis. Logo o marido dela chegou e a irmã foi embora. Ficamos os três num box mega apertado, super desconfortáveis, durante toda a manhã. Perto do meio dia ela foi novamente avaliada e tinha dilatado só mais um centímetro, estava nos 6. Finalmente nos mudaram para o centro cirúrgico onde pelo menos tínhamos bola, cavalinho e espaço. E Gabriela se movimentava bastante, agachava durante as contrações, sempre tranquila, aceitando as dores, apoiada pelo marido. Muita paz.
Só que a dilatação ia evoluindo muito lentamente. Foram três horas para ela chegar aos 7cm, o que a colocou na linha de alerta do partograma. Os médicos estavam muito tranquilos e pacientes, apenas avaliando os batimentos do bebê e a dilatação dilatação cada uma hora, mas sem pressionar em momento algum.
Por volta das 17h, o médico fez nova avaliação e vou que, apesar do bebê estar ok, a dilatação não havia evoluído nada, o que colocava a situação na linha de ação do partograma. Ele nos deixou à vontade para conversar se a opção seria a ocitocina, a cesariana ou uma transferência de hospital. O casal decidiu que a administração da ocitocina seria a melhor das opções e enquanto o médico não voltava Gabi e eu fizemos vários exercícios para favorecer a descida e encaixe do bebê, na esperança de dispensar a ocitocina.
Aí vem a parte interessante: o médico nunca voltou. Chegou a troca de plantão e o novo responsável estava enrolado no consultório, então só às 19:30 (2 horas é meia após a linha de ação, vejam como é importante agir rápido ‪#‎modoironicoon‬) uma médica que fez uma cesariana na sala ao lado da nossa reparou que ele estava há muito tempo sem avaliação e veio ouvir os batimentos e fazer o toque. Como apesar de todos os nossos esforços a dilatação continuava nos 7cm, a Gabriela foi colocada na ocitocina.
Juro que escorreu uma lágrima de pena na primeira contração pós ocitocina: a Gabriela quase virou do avesso com tanta dor. Caiu de joelhos no chão, chorou, gritou... muito ruim... então diminuíram o gotejamento do soro, que é o correto, e as contrações continuaram vindo muito fortes, muito doloridas.
O médico que assumiu o plantão veio cerca de uma hora depois para avaliar e logo eu soube que o parto não iria acontecer. Dentre as frases que me passaram essa informação estão: "esse bebê não vai morrer no meu plantão" e "ao menor indício, por menor que seja, que o bebê pode vir a ficar numa situação desconfortável, nós vamos para a cesariana". Muito grosseiro, visivelmente irritado com minha presença como doula. Mas o bebê estava bem, a dilatação havia evoluído para 8-9 cm e ele concordou em continuar acompanhando, o que me deu esperança. Eram cerca de 21h.
Gabriela e Sirlei, exemplos e força, tranquilidade e de não se deixarem abater pelo cansaço, continuaram andando pelo quarto, agachando, rebolando, com uma disposição invejável. O médico retornou por volta das 22h, fez o toque e disse que ia indicar a cesariana porque o bebê estava com a cabeça em forma de cone, o que indicava que não ia ter passagem, e que ele não nasceria de jeito nenhum. Eu fiquei arrasada porque eu sei que isso é uma grande MENTIRA. A cabeça em forma de cone é algo que acontece com TODO BEBÊ que nasce de parto normal, e volta ao normal após algumas horas ou no máximo uns 2 dias após o parto.
Gabriela foi para a cesariana e eu fiquei, literalmente, chorando do lado e fora, porque apesar de saber como é bom para a mãe e o bebê todo o processo do trabalho e parto, de saber o valor de cada contração para a saúde do bebê, aquele desfecho era muito injusto para uma mulher tão forte.
Porém, durante a cirurgia, o médico viu que a placenta estava descolada (provavelmente devido às contrações violentas que só a ocitocina sintetica é capaz de proporcionar) me consolou, porque as chances de ela terminar numa cesariana de qualquer forma eram bastante altas. Na minha opinião, o médico indicou cesárea por motivos falsos mas acabou acertando sem querer, tanto que colocou como causa da cesariana o descolamento de placenta e não a cabeça em forma de cone....
Gabriel nasceu às 22:46, com 3.285kg, com os olhos da mãe e com a covinha na bochecha do pai. Nasceu forte e muito saudável, sem sustos.
Na minha opinião de doula, a dilatação difícil da Gabriela tem relação direta com o ambiente hospitalar. Ela nunca havia tomado qualquer remédio na veia ou sido internada, porém tanto o pai quanto a mãe morreram hospitalizados e ela visivelmente ficou traumatizada em relação a procedimentos médicos. Se o hospital é naturalmente um ambiente hostil, que associamos a doença, e que tende a dar uma travada no trabalho de parto, imagina em um caso como o dela? Ela mesma no fundo sempre soube disso, porque desde o início estava convicta de querer parir na casa de parto.
Enfim, minha gente... a ocitocina se fez necessária pela progressão lenta, a cesárea se fez necessária pelo descolamento da placenta e apesar de não ser o desfecho que queríamos, foi uma cirurgia tranquila, mãe mãe bebê estão ótimos e meu coração de doula está tranquilo.
Gabriel, bem vindo a esse mundo doido. Sirlei, Gabriela, vocês são um casal maravilhoso! Muito orgulho de vocês e dessa nova família!

Muita dificuldade em exercer meu papel de doula! Apesar da lei que garante às mulheres o acompanhamento de uma doula independentemente da presença de acompanhante, os médicos ainda se acham no direito de simplesmente não autorizar a entrada! Minha doulanda em franco trabalho de parto e eu aqui esperando a ouvidoria do hospital abrir para fazer barraco!

Manobra de Kristeller

Hoje eu quero conversar com vocês sobre uma manobra ainda muito utilizada em partos normais e que não só é prejudicial para mãe e bebê, mas é considerada violência obstétrica: a manobra de kristeller.
Como já falamos várias vezes aqui na página, o parto tem um tempo certo para acontecer. Depois que a mulher dilata os 10cm começa uma nova fase do parto, o chamado período expulsivo. Essa fase é marcada por uma vontade incontrolável de fazer força quando a contração chega ao ápice, pela descida do bebê e, finalmente, pelo nascimento. O tempo de duração dessa fase vai de alguns minutos a várias horas e, desde que os batimentos cardíacos do bebê estejam ok, bem como o estado geral da mãe, não há nenhuma necessidade de se apressar esse processo. São, aliás, as idas e vindas do bebê a cada contração e sua movimentação durante as contrações que fazem com que o processo seja tranquilo e que diminui a chance de hemorragias e de lacerações.
A manobra de kristeller, criada em 1867, é uma tentativa de acelerar a descida do bebê. Aplica-se uma pressão no fundo do útero (empurrando a barriga) que impulsiona o bebê para baixo. Para o bebê, aumentam os riscos de traumas relacionados a passagem dos ombros (como ele é empurrado, não consegue fazer a rotação adequadamente), como fratura da clavícula, distócia de ombro, etc.; aumentam os riscos de sofrimento fetal; há maiores chances de lesão de órgãos internos e hematomas. Para a mãe, aumentam os riscos de ruptura uterina, contusões, fratura da costela, descolamento prematuro da placenta, hemorragia, lacerações graves do períneo na saída do bebê.
Pois é, gente... o kristeller é tão absurdo que é uma manobra PROIBIDA em vários países e a Organização Mundial de Saúde NÃO A RECOMENDA. Não existe nenhuma indicação concreta para o uso desse procedimento. Qualquer diminuição de tempo do período expulsivo não compensa a dor que a mãe sente no procedimento nem o aumento dos riscos para a mulher ou para a criança. Nenhum médico deveria fazer e nenhuma parturiente deveria se submeter a isso. Mas eu pessoalmente já vi a técnica ser aplicada duas vezes, e o médico ainda soltar um “ainda bem que eu te dei uma ajudinha”. Vamos compartilhar esse texto para que mais mulheres estejam informadas sobre aquilo que envolve o seu parto, e qualquer dúvida podem entrar em contato com a gente!
Muitas mulheres superestimam sua capacidade de lutar contra o sistema. Eu sempre digo que parir nesse país é uma guerra, e infelizmente muitas mulheres só entendem a dimensão do que eu digo após se frustrarem com o nascimento do bebê.
O primeiro inimigo a ser derrotado é o médico do convênio. Se você acha que o seu médico do convênio é especial e diferente de todos os outros, peça para ver os números dele: no último ano, quantas cesarianas e quantos partos normais? Porque meninas, o médico do convênio não é um vilão que gargalha nas suas costas enquanto marca a cesariana, mas, de uma forma geral, eles perderam o hábito de acompanhar partos e de não intervir, a não ser que haja uma necessidade real. Então você vai chegar ao final da gravidez, super sensível, super ansiosa, tendo que lidar com seus próprios medos que já não são poucos, e você vai ter um médico procurando “pelo em cabeça de ovo”, porque ele também está com medo e jamais vai admitir isso. Vai te mandar fazer 500 ultrassonografias, vai se mostrar mega preocupado com aquela pressão 13x9, e isso vai minando a sua confiança de que é capaz de parir. Não é por mal: o problema é que a maioria dos médicos de convênio está acostumada a fazer cesáreas eletivas, só isso. Ah, Elisa, mas uma equipe humanizada é muito, muito caro... Mas caro do que eu sou capaz de pagar... Eu te entendo, eu fui uma dessas também. Dessas e de tantas outras que eu conheço que achou a equipe humanizada muito cara para um primeiro parto e pagou para o segundo, por perceber só tarde demais o quanto é importante. Mas se de todo você não tem condições de pagar, lute contra um outro inimigo: o medo do SUS. Porque o pré-natal do SUS dá de 10 no de qualquer médico de convênio, e no SUS eles não te empurram cesarianas desnecessárias. A partir disso, basta se informar sobre os melhores hospitais e como fazer para conseguir atendimento neles (olha a doula aqui, kkkkk).
O segundo inimigo a ser derrotado é a família. Dói, né?! Porque são as pessoas que mais te amam, as pessoas que você mais ama, a opinião deles tem um peso muito grande. E eles não entendem de parto, mas se preocupam muito com você e com sua saúde. E o senso comum diz que a cesariana é mais segura do que o parto normal, embora todos os estudos e estatísticas provem justamente o contrário. Na cabeça da sua família, é arriscado esperar além das 40 semanas. Na cabeça da sua família, você é muito fraca para suportar as dores do parto. Na cabeça da sua família, você é muito frágil para tudo isso. Novamente, não é por mal. É amor, só amor. Mas sua autoconfiança vai sendo minada, e de tanto ouvir as pessoas que você ama dizerem que você está errada, você começa a ter medo de estar exagerando no desejo por um parto normal.
O terceiro inimigo são as informações equivocadas. Principalmente relatos de partos normais mal sucedidos, geralmente contados pelas metades. O bebê que ficou entalado e tiveram que cortar a cabeça, o bebê que passou da hora e morreu na barriga, a moça do parto humanizado que morreu porque insistiu em ter bebê em casa... Nossa, quantos filmes de terror, quantos fantasmas, quantas histórias horríveis as pessoas adoram contar para as grávidas... E por mais que conscientemente você saiba que tudo isso é um absurdo sem tamanho e que com certeza a história contada não foi bem daquele jeito na realidade, esses absurdos ficam ali no seu subconsciente, virando medo de parir.
O quarto inimigo é a ilusão do parto sem dor. Quando uma mulher está buscando um parto natural, ela vê infinitos vídeos de parto, principalmente parto em casa, e lê infinitos relatos também. Esses vídeos e relatos mostram o parto da perspectiva que a gente tem quando ele acaba: maravilhoso, transcendental, redentor, melhor coisa da vida. Isso significa que a dor, a dor física, a dor do parto, é relativizada, porque quando tudo acaba ela se torna apenas parte de um processo muito maior e mais bonito do que a dor em si. Só que quando o trabalho de parto tem início e durante longas horas, o que a mulher tem é a dor em si. Muita dor. Muita dor mesmo. E não estamos preparadas para ela, nunca estamos. As longas horas de trabalho de parto são regadas a lágrimas, medo, arrependimento, desejo de fazer qualquer coisa que ponha fim àquilo. Se você não tiver pessoas empoderadas e carinhosas que te segurem a mão e te repitam constantemente que você vai conseguir, que aquilo vai passar, você desiste de tudo mesmo. O trabalho de parto tem que ser acompanhado de muito abraço, de muitas palavras positivas, de muitas músicas inspiradoras, para que a dor seja suportável, para que você atravesse a dor, coloque seu bebê no mundo e entenda porque, afinal de contas, a dor não é esse fantasma todo.
Então o quinto e principal inimigo é você mesma. Porque só você é que pode se convencer a não cair nessas armadilhas que eu descrevi acima. Só você é que pode decidir que é importante, sim, ter uma doula. Só você é que pode chegar para o seu médico do convênio e pedir os números dele sem medo de ser indelicada. Só você pode insistir e informar seu/sua acompanhante para que ele/ela seja aliado/a e não mais um inimigo a enfrentar. Só você pode mandar quem vem com histórias horrorosas calar a boca, dizer que não quer ouvi aquilo. Só você pode tomar a decisão de mudar de médico durante a gravidez. Só você pode decidir ter convênio e mesmo assim ir parir no SUS. Só você pode decidir que vale a pena procurar um grupo de apoio, frequentar rodas de grávidas. Cabe a você. Enfrente-se, encare essas realidades, e conte comigo para te orientar e segurar a sua mão.

Júlia

Apresento para vocês a mais nova flor que desabrochou em Brasília, a Júlia! 
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 Quando comecei a fazer o curso de doula e educadora perinatal pela Matriusca, tínhamos que escolher uma mulher grávida para iniciar a prática de acompanhamento. Logo pensei na Maristela, minha colega de trabalho que havia descoberto a gravidez há pouco tempo. Ela, mãe marinheira de primeira viagem e eu, começando o percurso de formação na doulagem... Tudo foi muito novo nesta nossa relação, por isso tão bonito também! Cada dia um novo aprendizado, dúvidas que viraram conhecimento e uma parceria que rendeu boas risadas e silêncios bem compreendidos. A linda filha de Maristela nasceu de cesárea no Hospital Santa Luzia no dia 2 de dezembro, com 3,285 Kg e 51 cm. Seu parto teve a colaboração do médico Marcondes, e vale dizer que Mari adorou seu atendimento durante toda gestação. Infelizmente não pude acompanhar o parto, devido às limitações do hospital, mas me senti muito feliz da Mari ter aceito meu convite para ser sua doula, inclusive participando de algumas rodas da Poder de Parir. O mais lindo da doulagem é isso, a relação vai para além da maternidade....é para vida toda! Gratidão a todas mulheres grávidas que nos permitem participar de seu círculo de vida, agregando mais e mais amor à nossa existência 
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Bebê "passa do tempo"?


Primeiro: é possível que em uma gravidez normal já a termo (passando de 38 semanas) um bebê morra dentro da barriga sem que a mãe sinta nada? Sim, é possível. Pode acontecer de, por algum motivo, o bebê não receber nutrientes suficientes da placenta materna e morrer. Só que essa é uma situação drástica, que ocorre quando o pré-natal não é bem feito. Não é à toa que no final da gravidez as consultas, que eram realizadas uma vez por mês, acontecem a cada semana. A ausculta dos batimentos cardíacos do bebê determina se a saúde dele está em ordem. Aliás, os batimentos cardíacos fetais são o melhor indicativo para prosseguir com a gravidez sem medo.
Segundo: o processo da gravidez é natural e perfeito; nossas maneiras de colocar data nele é que não são. A idade gestacional é determinada por duas variantes - a data da última menstruação (DUM) e a idade gestacional apontada pela primeira ultrassonografia. A idade gestacional apontada pela DUM pressupõe um ciclo regular, em que a ovulação ocorreu 14 dias após o primeiro dia da última menstruação. Não sei você, mas a maioria das mulheres que eu conheço não tem um ciclo exato assim. Então você vai concordar comigo que, pela DUM, pode haver uma variação grande aí, né?! 3 dias, uma semana, quinze dias... Então se pela DUM sua gravidez tem 40 semanas, você pode na verdade estar com 39, ou com 41... E a primeira ultra? Se feita logo no comecinho da gravidez, ela é bem confiável. No comecinho, que eu digo, é antes da oitava semana de gestação. Então quando falamos em um bebê "passar da hora", dá pra perceber que o conceito de "hora" é bem relativo, né?!
Terceiro: cada bebê tem um ritmo, cada bebê tem um tempo. Tirar um bebê do útero por medo de passar da hora é arriscar-se a ter um bebê ainda imaturo, com dificuldades para respirar, já que os pulmões são a última parte do corpinho a ficar realmente pronta. Não é à toa que com essa atual onda de cesarianas agendadas a maioria dos bebês internados em UTIs neo natal estão lá por problemas respiratórios.
Quarto: a gravidez vai de 38 a 42 semanas. 42, não 40, tá?! A DPP não é o último dia possível para o bebê nascer, é só - como o próprio nome diz - uma data provável. Foque nas 42 semanas que a ansiedade diminui.
Então tenho dois conselhos que valem ouro para te dar. Sabe a DPP? Então, não precisa espalhar pra todo mundo. Vamos supor que sua DPP seja 15/12: você diz pras pessoas que vai nascer junto com o novo ano. Assim, se nascer antes, todo mundo fica surpreso e feliz, e se nascer de 42, ninguém fica te pressionando. Jogue sempre pra depois das 42 para contar para as pessoas. O outro conselho é: com a gravidez chegando ao seu final, fique o mais off-line possível. Faça o seu pré-natal com toda a responsabilidade e confie no seu corpo e no seu tempo, isolando-se o máximo possível para aproveitar os últimos dias de barriga e fugir dos pitacos que só trazem estresse.
Na nossa roda de grávidas dessa semana surgiu o assunto das finanças familiares e o impacto causado pela chegada de uma criança. Junto a isso, a discussão sobre o pós-parto e o retorno ao trabalho.
Mulheres, a chegada de um bebê é um evento que impacta toda a família e gera uma série de crises (não no sentido ruim da palavra, no sentido de levar várias situações ao limite, mesmo). Já abordamos aqui, anteriormente, o turbilhão emocional que é o puerpério, a mistura de sentimentos bons e ruins, a sensação de incapacidade, o medo, etc. Porém, além disso, é muito importante falar também sobre os aspectos mais materiais dessa chegada.
Durante a gestação, fazemos, por exemplo, o enxoval do bebê. Tenho visto muitas mulheres gastando fortunas e comprando roupinhas como se fosse viver isolada da sociedade todo o primeiro ano de seu bebê. Desse jeito é claro que o impacto financeiro sobre a família vai ser mesmo muito grande. A verdade é que, em se tratando de gastos com bebê, menos é mais. As roupinhas que você precisa comprar enquanto grávida são mesmo só as RN e P. E o importante é ter as básicas! Bodyzinho simples de algodão, calça, macacãozinho, essas de ficar em casa mesmo. A mulherada empolga e compra mil roupas megatransadas de sair, gastam uma nota e no final tem que comprar mais roupa porque as básicas mesmo ficaram esquecidas. E, na boa, quando seu bebê começar a usar M você já está craque em sair com ele no carrinho ou no sling, e compra!
Outro gasto que é meramente estético é sapatinho. Já pensou que os bebês não andam? Algumas meinhas bem transadas são muito mais úteis do que os caríssimos sapatinhos de bebê.
Mais um aspecto importante a se pensar é o tal do carrinho. São N² modelos, a gente fica super confusa! O único critério que você precisa levar em consideração é: eu consigo montar e desmontar esse carrinho sozinha e sem nenhuma dificuldade? Porque é isso que vale num carrinho, você conseguir passear com seu bebê sem depender de ninguém!
Uma dica de economia que vale ouro é fazer compras nos brechós. Algumas mulheres torcem o nariz para essa possibilidade, principalmente as mães de primeira viagem. Mas quem já tem filhos sabem o quanto eles perdem roupinha rápido! As roupas que estão à venda num brechó foram pouquíssimo usadas (às vezes nem foram usadas) e de quebra você encontra brinquedos, carrinho, berço, cadeira de alimentação, tudo de qualidade num preço bem mais camarada. Fora que é bem mais sustentável reutilizar do que comprar novo!
Quanto ao quartinho, vale a pena dar uma conferida no nosso post sobre quartos montessorianos. Porque a real é que montamos quartinhos de príncipes e princesas, mas nada interessantes para os principais interessados: as crianças! Criança não curte tons pastéis, né?! Criança gosta é de colorido, de poder tocar nas coisas, de se ver, de experimentar! E fazer um quartinho montessoriano é bem mais simples e barato do que os quartinhos tradicionais.
Claro, minha amiga, se você estiver com dinheiro sobrando, ok, realize todos os seus sonhos e compre tudo o que quiser, mas tenho visto muitas mulheres se endividarem com a chegada de um filho, e isso não é saudável para a família, tende a gerar ainda mais crises no pós-parto! Nesse caso, dois sapatinhos que você deixa de comprar pagam a diária de uma boa faxineira que, você vai ver e concordar comigo, é beeeem mais útil e importante do que sapatinhos! kkkkkk

Exame de strepto B deu positivo, e agora?

Essa semana, estava conversando com uma colega cuja irmã está grávida. Segundo ela, a moça está desesperada porque o exame de strepto B deu positivo e o médico já a encaminhou para uma cesárea. Ouvir essas coisas me causa uma dor que eu nem sei explicar para vocês, sabe?! Porque qualquer um que estude minimamente parto sabe que essa não é uma indicação de cesariana, imagina quem estudou a fundo, né, nesse caso, um obstetra? Mais uma mulher que terá seu sonho do parto normal roubado na maior cara de pau do mundo… Enfim, esse diálogo me fez sentir a necessidade de esclarecer melhor vocês todas e todos sobre o que é, afinal, esse streptococus, que riscos representa, o que fazer se o exame for positivo.
Streptococus galactiae é o nome científico de uma bactéria extremamente comum, que coloniza a bexiga e as regiões vaginal, intestinal e retal das mulheres. Ela está presente na região genital de cerca de 30% das mulheres grávidas. Não é uma DST, ou seja, não é transmitida por via sexual. As mulheres que apresentam o Streptococus na região vaginal geralmente foram contaminadas pelas suas próprias bactérias, vindas do intestino ou da região retal. Na maioria dos casos, o strepto positivo não gera nenhum sintoma e nenhum dano físico.
Quando a mulher grávida apresenta o strepto B positivo, seu bebê pode ser colonizado por essas bactérias (em média 50% dos bebês o são). A princípio, isso não gera nenhum problema, o sistema imunológico do bebê consegue combater essa bactéria simples.
Entendido isso, vem a grande questão: o que essa bactéria pode causar? Por que o alarme?
Em uma pequena parcela das mulheres infectadas pelo strepto, pode acontecer infecção urinária ou uterina. No bebê, em raríssimos casos, pode-se desenvolver pneumonia, meningite, dentre outras infecções. Geralmente os sintomas já aparecem no primeiro dia de vida, mas podem aparecer até o 7º. Quero destacar as expressões 'pequena parcela' e 'raríssimos casos'. Depois quem quiser pode me pedir os estudos, estamos falando de uma porcentagem realmente ínfima.
E se meu exame de strepto der positivo? O que se faz para combater essa bactéria?
No Brasil, não há consenso sobre o combate ao strepto. No SUS, o exame sequer é obrigatório. O que eles fazem é ministrar antibiótico a mulheres que tenham parto prematuro, febre inexplicada, bolsa rota por mais de 18 horas, infecção urinária causada por strepto ou bebê anterior que tenha sido contaminado pela bactéria.
Além disso, uma mulher que faça o exame e receba resultado negativo não está necessariamente livre do problema, visto que entre a realização do exame e o parto ela pode ter se contaminado.
Não há estudos ainda sobre o uso de antibiótico oral em mulheres com exame de strepto positivo. Além disso, o uso de antibiótico pode baixar a imunidade da mãe. Por isso indica-se mesmo o antibiótico intravenoso na hora do trabalho de parto.
Mas e aí? Não é mais seguro fazer uma cesariana se o exame do strepto der positivo?
Tenho ouvido relatos como o dessa minha amiga, com médicos dizendo que o parto normal com strepto positivo é um grande risco, pois o bebê pode ser infectado e morrer. A primeira resposta que tenho é que apenas 1 a 2% dos bebês de mães com strepto positivo desenvolvem algum tipo de infecção. A segunda é que se for ministrado antibiótico durante o trabalho de parto, as chances são reduzidas em 89%. E a terceira é que é sério, gente, cesariana é uma cirurgia, que envolve muuuuuito, muuuuuuuito, mas muuuuuuito mais mesmo, mais riscos para mãe e bebê do que um strepto positivo.
O tratamento para infecção é antibiótico, não cirurgia!
São muitas crianças que vieram ao mundo apoiadas, de alguma forma, por essa nossa equipe maravilhosa. Segue uma amostra dos olhinhos espertos, dos sorrisos enormes, das dobrinhas que a gente ama. Titia aqui fica cada vez mais babona, e agradece às mulheres tão especiais que confiaram em mim para acompanhar um momento tão íntimo e especial e que me permitem continuar sendo parte da vida delas e desses pequenos tesouros.
(Elisa Costa)

Por que fazer um plano de parto?


O plano de parto é um documento em que a mulher grávida e seu/sua acompanhante expressam todas as suas vontades em relação ao parto. Este documento deve ser protocolado no hospital, com o pedido de que seja anexado ao prontuário da mulher grávida, ficando uma cópia com a mulher e uma com a doula.
A elaboração do plano de parto faz com que a mulher pesquise e entenda assuntos sobre os quais os obstetras não costumam ter tempo de conversar durante a consulta. Coisas como maneiras de indução de parto, episiotomia, possibilidade de uma cesariana, analgesia de parto, dentre outros. Preenchendo o plano de parto, a mulher fica muito mais bem informada e capaz de tomar decisões conscientes quanto ao próprio corpo e ao seu bebê.
Além disso, o fato de ter suas vontades expressas em um documento faz com que as pessoas da equipe não possam usar a desculpa do "eu não sabia". Se a vontade da mulher for desrespeitada, a base para uma reclamação formal ou processo está bem delimitada. Em tempos de tanta violência obstétrica, isso é uma grande segurança.
Deseja fazer seu plano de parto? Busque um modelo na internet ou entre em contato com a nossa equipe, será um grande prazer te ajudar!
(Elisa Costa)

Espiritualidade

Mulheres, a prática espiritual, seja lá qual for, envolvida ou não com religião, projeta sua intenção com o amor na sua forma mais pura.
Já pensou em se conectar com sua vibração interior hoje? Sua percepção intuitiva sobre o mundo, sobre as pessoas ao seu redor, inclusive família, contribuem muito para o relacionamento com o bebê e vice-versa.
Reencontrar o eixo instintivo, estabelecer as bases para uma libertação dos diversos medos que nos habitam, facilitam nossa relação com o mundo, nossos irmãos e irmãs que colaboram para nossa existência aqui na terra.
A prática espiritual nada mais é do que a prática do amor, da doação, da caridade. Não é algo fácil, especialmente em uma fase tão única como a gravidez. Mas se pensarmos que pode definir muito do rumo de nossas futuras gerações, vale a pena praticá-la, pelo menos tentar. Meditação, yoga, caminhadas, pilates, também colaboram para o crescimento interior.
Seja ela qual for, temos como base o que queremos para o nosso futuro e de nossos filhos e filhas. Queremos deixar um mundo melhor para eles, é claro. Mas não seria mais estratégico colaborar para um melhor desenvolvimento de nossas crianças? Afinal de contas, o ser que cresce em você é extensão de você e toda sua fortaleza interna Emoticon smile
Algumas dicas que podem ajudar nesse processo:
1 - Faça a hora de brincar e rir, seja de si mesma, de uma situação, pratique o descontrole da vida.
2 - Ande descalça, ajudando a se reconectar com a terra e toda vibração natural que vem dela.
3 - Fale em voz alta com seu auto-deus, deusa, um lugar de poder e autoridade.
4 - Faça ioga, chi gong, dançar, correr ou apenas fazer algo ativo você ama
5 - Em vez de encontrar problemas se concentre em soluções.
6 - Receba massagem regular ou faça um trabalho corporal se você puder
7 - Leia os sinais da vida e do universo (mais importante de todos).
Enfim, apenas uma pequena reflexão para todas nós, dedicado especialmente para vocês, mulheres lindas!

Amamentação

Se amamentar o filho ao seio, nutrindo-o com o alimento mais completo que existe, é pobrice, minhas doulandas estão me matando de tanto orgulho, fazendo muita pobrice todo dia!
Vai ter bebê mamando no peito, sim! Nós, da Poder de Parir, incentivamos demais as mães a amamentarem seus filhos em livre demanda, a amamentarem onde quiserem (porque se a mulher precisa se ausentar para dar de mamar sozinha num canto, a amamentação tende a ser algo bem mais pesado do que se ela puder simplesmente botar os peitos pra fora e pendurar o bebê, hehehe), a amamentarem pelo maior tempo possível.
Leite materno é saúde! Bebê pendurado no peito está recebendo alimentação completa e muito amor!
Adoro vocês, minhas pobres preferidas!

Por que o ambiente influencia a duração e a qualidade do trabalho de parto?


Como doulas, uma das nossas principais funções é cuidar do ambiente do parto. Estamos sempre apagando a luz, lembrando as pessoas de evitarem conversas paralelas, pedindo silêncio durante as contrações, colocando uma música agradável, usando um óleo essencial para tirar o cheirinho de hospital do quarto... Mas por que isso é tão importante, você sabe?
A primeira coisa a entender é que o trabalho de parto e o nascimento são uma verdadeira revolução hormonal nos organismos da mulher e do bebê. Os hormônios é que controlam tudo: contração, dilatação, expulsão, lactação, tudo é ditado por quatro hormônios principais: ocitocina, endorfinas, epinefrina e prolactina. Esses hormônios são os mesmos para todos os mamíferos, ou seja, é o momento em que nos igualamos a todos os animais que gestam e parem.
Mas há algo que nos diferencia essencialmente de todos os animais que gestam e parem: nosso neocórtex, que é o nosso cérebro racional. Os animais deixam-se guiar basicamente pelos seus instintos, não ficam questionando tanto e pensando tanto como nós, humanos. Naturalmente, os animais procuram um local mais reservado, escuro e tranquilo para parir, e não questionam como nós, aceitam o processo e se entregam a ele, porque é natural.
Já nós, mamíferas humanas, vamos parir em um hospital. Muita luz, muita gente entrando o tempo todo, perguntando coisas, nos obrigando a ficarmos com o nosso racional ligado. Dessa forma, nosso neocórtex funciona mais do que o nosso sistema límbico (essa parte primitiva e irracional do cérebro, que dá ordem para liberação dos hormônios do parto), o que tende a gerar um trabalho de parto mais longo e dolorido.
Para que o trabalho de parto seja mais prazeroso e que a sensação de dor seja aliviada, é preciso que o nosso neocórtex fique o menos ativo possível, ou seja, que a mulher consiga se concentrar no processo sem ser solicitada o tempo todo, sem ter que ficar racionalizando o que está acontecendo. Por isso a atmosfera de silêncio e privacidade, com pouca luz e pouca conversa, ajuda nessa mudança do funcionamento cerebral: se essas forem as condições do momento, a mulher será capaz de, por puro instinto, escolher posições, movimentos, sons que a ajudarão a parir da forma mais confortável possível.
Assim, a doula vai ajudar essa mulher a ter o máximo possível de privacidade e tranquilidade durante o seu trabalho de parto, preparando um ambiente confortável e orientando os presentes a respeitarem esse momento tão grandioso. Eu perco a conta de quantas vezes apago a luz e de quantas vezes digo "Espera a contração passar?" para a equipe de enfermagem. E todas as mulheres que já pariram podem confirmar o quanto isso é importante! Doula já! kkkkkkkk
(Elisa Costa, com imagem do blog felizparto.blogspot.com.br)

Qual a diferença entre parto vaginal e parto natural?


A primeira vista, parece que os dois termos são sinônimos, não é mesmo? Tendemos a acreditar que existem apenas duas opções para o nascimento de um bebê: cesariana ou parto normal.
O parto vaginal é aquele, como o próprio nome remete, acontece pela vagina porém pouco dele é realmente normal. São partos que têm o pressuposto da medicalização, passando por intervenções muitas vezes desnecessárias. Posição restrita ou deitada, jejum, hormônio sintético, manobras, episio, puxos dirigidos ... o rol de procedimentos é extenso. Parte dessas intervenções pode até ser necessária, o problema é o uso padronizado e indiscriminado. A maioria das mulheres que me relataram partos normais traumáticos foram vítimas desses procedimentos que não respeitaram o tempo do trabalho de parto nem a autonomia da mulher e seu corpo.
No parto natural a lógica é da intervenção mínima e quando necessária. A mulher tem possibilidade de realmente conduzir sua experiência de parto e no tempo demandado pelo seu corpo e do bebê. Não se trata de parto desassistido, mas sim visto como fisiológico e sem o princípio intervencionista.
Milena Araguaia - a Raposa

Roda de Paridas

E na quarta-feira tivemos mais uma linda roda de paridas. Cinco bebês e nove mulheres compartilhando sobre as experiências dos partos reais frente as expectativas da gestação, a nova interação entre os membros da família, as rotinas e desafios do puerpério. Gratidão Ana Paula por ter nos acolhido em sua casa. Gratidão mulheres pela partilha e aprendizado.

Será que você é uma mulher do tipo super controladora?


Já falei algumas vezes, aqui, sobre a síndrome da super-mulher. Ela é observada nas mulheres atuais que, após a entrada no mercado de trabalho, passaram a acumular as funções externas com ainda total controle das funções de dentro de casa, ou seja,a mulher trabalha fora, cuida da casa, cuida dos maridos, cuida dos filhos, cuida de si. Mesmo quando ela consegue terceirizar algumas coisas (contrata alguém para os serviços domésticos, por exemplo), ela não abre mão do controle, querendo observar e ditar regras sobre tudo que a pessoa que assumiu a tarefa tem que fazer.
Quando uma dessas super-mulheres descobre-se grávida, essa necessidade de controle e programação impacta diretamente a gravidez (às vezes até mesmo antes dela, quando a mulher decide engravidar e controla muito sistematicamente seu ciclo, querendo determinar o início da gravidez), e ela vai buscar informações, incansavelmente. Estou falando aqui daquela mulher que não se conforma com as informações passadas pelo obstetra e pela doula, mas que pesquisa reportagens, relatos, artigos científicos, que sabe tudo sobre ovulação, concepção, todas as fases da gravidez, exames, parto, pós-parto, amamentação. Eu fui uma grávida assim, então falo de mim mesma também.
O lado bom de ser assim é que você não será enganada facilmente. Muitos médicos hoje utilizam-se de dados ultrapassados ou de falácias para induzir uma cesariana, ou atribuem um peso excessivo a uma pressão que sobe um pouco em uma aferição, e essa mulher que lê tudo e que controla tudo poderá rebater esses argumentos, discutir com mais propriedade, trocar de médico com mais segurança. Saberá melhor o que é bom para si e para seu bebê, optará por um parto mais natural e respeitoso, buscará com mais afinco uma equipe realmente humanizada.
Mas olha... Tem um lado ruim aí também. Nós, super-mulheres obcecadas pelo controle, podemos nos ver subitamente forçadas a abrir mão dele. Seja porque a gravidez não vem quando queremos, seja porque apresenta alguma intercorrência (aborto, descolamento de placenta, etc.), seja porque algo em nosso contexto familiar muda subitamente sem que possamos remediar (doença ou morte na família, divórcio, etc.), para quem busca controlar tudo a adaptação a esse tipo de intercorrência tende a ser muito mais difícil.
E mesmo que nada disso aconteça e a gestação transcorra lindamente, ao optar por um parto natural essas mulheres terão um grande obstáculo: parto é, em essência, a perda do controle. Você não decide a intensidade das dores, a velocidade com que seu corpo dilata, como seu bebê vai reagir ao trabalho de parto, a posição em que ele se encontrará. Você pode pesquisar, e se informar, e se comunicar com a equipe o quanto quiser durante a gravidez, mas, na hora do nascimento do bebê, quanto mais você controlar, mais vai atrapalhar o seu próprio trabalho de parto.
O pós-parto também tende a ser mais complicado para as mulheres controladoras. Porque pós-parto tranquilo é aquele em que a mulher pode se concentrar apenas nela mesma e no bebê. Mas se a mulher precisa trabalhar de casa, cuidar dos afazeres domésticos, dentre outras atribuições estranhas ao binômio mãe-bebê, mais turbulento tende a ser esse período.
Meu conselho? O de sempre - buscar o equilíbrio. Pesquisar sempre, se informar muito, sim, claro. Mas se você tem muita dificuldade em abrir mão do controle, vale a pena buscar ajuda de um psicólogo para trabalhar essa questão, ou, ao menos, buscar terapias alternativas para desligar um pouco esse lado racional: biodanza, yoga, meditação, etc. Quem controla demais costuma achar tudo isso uma "besteira", exatamente por ser excessivamente racional, mas creia: trabalhar o emocional e treinar o 'desligamento' do controle é tão importante quanto saber tudo sobre parto.
(Elisa Costa)