Gabriela me ligou por volta das 3h dizendo estar sentindo contrações de 4 em 4 minutos. Não esperávamos o Gabriel para antes do dia 10, inclusive a despedida de barriga dela seria hoje na nossa roda, mas parto normal tem dessas coisas: quem sabe a hora certa de vir melhor do que o bebê?
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Como ela ainda não havia completado as 38 semanas, o plano original de ir para a casa de parto foi por água abaixo e ela optou por um hospital particular coberto pelo convênio dela, então combinamos de nos encontrar no Santa Helena. Cheguei lá às 6h, e já comecei com muito estresse: ela havia sido admitida, estava naqueles boxes da emergência e, como a irmã dele estava junto, não quiserem me deixar entrar apesar da lei garantir à mulher o direito e acompanhante E doula. Fiquei então sem nenhuma notícia dela, esperando a ouvidoria abrir para fazer barraco. Após toda a discussão, mil ligações, mil tudo, finalmente consegui entrar.
A Gabi estava com 5cm de dilatação, bem tranquila, dores suportáveis. Logo o marido dela chegou e a irmã foi embora. Ficamos os três num box mega apertado, super desconfortáveis, durante toda a manhã. Perto do meio dia ela foi novamente avaliada e tinha dilatado só mais um centímetro, estava nos 6. Finalmente nos mudaram para o centro cirúrgico onde pelo menos tínhamos bola, cavalinho e espaço. E Gabriela se movimentava bastante, agachava durante as contrações, sempre tranquila, aceitando as dores, apoiada pelo marido. Muita paz.
Só que a dilatação ia evoluindo muito lentamente. Foram três horas para ela chegar aos 7cm, o que a colocou na linha de alerta do partograma. Os médicos estavam muito tranquilos e pacientes, apenas avaliando os batimentos do bebê e a dilatação dilatação cada uma hora, mas sem pressionar em momento algum.
Por volta das 17h, o médico fez nova avaliação e vou que, apesar do bebê estar ok, a dilatação não havia evoluído nada, o que colocava a situação na linha de ação do partograma. Ele nos deixou à vontade para conversar se a opção seria a ocitocina, a cesariana ou uma transferência de hospital. O casal decidiu que a administração da ocitocina seria a melhor das opções e enquanto o médico não voltava Gabi e eu fizemos vários exercícios para favorecer a descida e encaixe do bebê, na esperança de dispensar a ocitocina.
Aí vem a parte interessante: o médico nunca voltou. Chegou a troca de plantão e o novo responsável estava enrolado no consultório, então só às 19:30 (2 horas é meia após a linha de ação, vejam como é importante agir rápido #modoironicoon) uma médica que fez uma cesariana na sala ao lado da nossa reparou que ele estava há muito tempo sem avaliação e veio ouvir os batimentos e fazer o toque. Como apesar de todos os nossos esforços a dilatação continuava nos 7cm, a Gabriela foi colocada na ocitocina.
Juro que escorreu uma lágrima de pena na primeira contração pós ocitocina: a Gabriela quase virou do avesso com tanta dor. Caiu de joelhos no chão, chorou, gritou... muito ruim... então diminuíram o gotejamento do soro, que é o correto, e as contrações continuaram vindo muito fortes, muito doloridas.
O médico que assumiu o plantão veio cerca de uma hora depois para avaliar e logo eu soube que o parto não iria acontecer. Dentre as frases que me passaram essa informação estão: "esse bebê não vai morrer no meu plantão" e "ao menor indício, por menor que seja, que o bebê pode vir a ficar numa situação desconfortável, nós vamos para a cesariana". Muito grosseiro, visivelmente irritado com minha presença como doula. Mas o bebê estava bem, a dilatação havia evoluído para 8-9 cm e ele concordou em continuar acompanhando, o que me deu esperança. Eram cerca de 21h.
Gabriela e Sirlei, exemplos e força, tranquilidade e de não se deixarem abater pelo cansaço, continuaram andando pelo quarto, agachando, rebolando, com uma disposição invejável. O médico retornou por volta das 22h, fez o toque e disse que ia indicar a cesariana porque o bebê estava com a cabeça em forma de cone, o que indicava que não ia ter passagem, e que ele não nasceria de jeito nenhum. Eu fiquei arrasada porque eu sei que isso é uma grande MENTIRA. A cabeça em forma de cone é algo que acontece com TODO BEBÊ que nasce de parto normal, e volta ao normal após algumas horas ou no máximo uns 2 dias após o parto.
Gabriela foi para a cesariana e eu fiquei, literalmente, chorando do lado e fora, porque apesar de saber como é bom para a mãe e o bebê todo o processo do trabalho e parto, de saber o valor de cada contração para a saúde do bebê, aquele desfecho era muito injusto para uma mulher tão forte.
Porém, durante a cirurgia, o médico viu que a placenta estava descolada (provavelmente devido às contrações violentas que só a ocitocina sintetica é capaz de proporcionar) me consolou, porque as chances de ela terminar numa cesariana de qualquer forma eram bastante altas. Na minha opinião, o médico indicou cesárea por motivos falsos mas acabou acertando sem querer, tanto que colocou como causa da cesariana o descolamento de placenta e não a cabeça em forma de cone....
Gabriel nasceu às 22:46, com 3.285kg, com os olhos da mãe e com a covinha na bochecha do pai. Nasceu forte e muito saudável, sem sustos.
Na minha opinião de doula, a dilatação difícil da Gabriela tem relação direta com o ambiente hospitalar. Ela nunca havia tomado qualquer remédio na veia ou sido internada, porém tanto o pai quanto a mãe morreram hospitalizados e ela visivelmente ficou traumatizada em relação a procedimentos médicos. Se o hospital é naturalmente um ambiente hostil, que associamos a doença, e que tende a dar uma travada no trabalho de parto, imagina em um caso como o dela? Ela mesma no fundo sempre soube disso, porque desde o início estava convicta de querer parir na casa de parto.
Enfim, minha gente... a ocitocina se fez necessária pela progressão lenta, a cesárea se fez necessária pelo descolamento da placenta e apesar de não ser o desfecho que queríamos, foi uma cirurgia tranquila, mãe mãe bebê estão ótimos e meu coração de doula está tranquilo.
Gabriel, bem vindo a esse mundo doido. Sirlei, Gabriela, vocês são um casal maravilhoso! Muito orgulho de vocês e dessa nova família!

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