terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Sobre o parto domiciliar


A Organização Mundial de Saúde afirma que o melhor lugar, o lugar correto para parir é aquele em que a mulher se sinta mais segura e confortável. Ao longo da história humana, as mulheres sempre pariram em casa. Às primeiras dores, chamava-se a parteira, que se dirigia à casa da mulher e a auxiliava durante o trabalho de parto. Essa parteira não tinha nenhuma vocação acadêmica específica para acompanhar o parto, mas aprendia o ofício geralmente com a avó, com a mãe e com a própria prática. A partir do momento em que se entende que parir é um evento fisiológico (ou seja, natural, como comer, fazer cocô ou transar), percebe-se que a função da parteira era principalmente encorajar e auxiliar a mulher, além de socorrer caso alguma coisa saísse do planejado.

Com a evolução da medicina, o local de parto, nos centros urbanos, foi transferido para os hospitais. O protagonismo feminino no parto foi substituído pelas instruções médicas e o nascimento passou a ocorrer principalmente no ambiente hospitalar. Como vantagens, tem-se, obviamente, uma gama de medicamentos, profissionais e equipamentos para socorro em caso de emergência. Como principal desvantagem, a meu ver, tem-se o aumento vertiginoso do número de cesarianas e a visão do parto como algo extremamente perigoso.

Cada trabalho de parto é único, como cada mãe, como cada bebê. Eventos que antes eram encarados com naturalidade, como uma bolsa que se rompe ou uma parada no ritmo das contrações, hoje são encarados logo como sinal de alerta, e a pressão em torno da parturiente torna-se muito maior. A liberação de adrenalina é um dos fatores que mais dificulta o trabalho de parto, e a tensão decorrente da imposição de tempo de trabalho de parto muitas vezes faz com que a dilatação não evolua.

Parir não é perigoso. A própria medicina está aí para provar isso. Ao comparar-se os números de partos normais e cesarianas, percebe-se que a via cirúrgica apresenta muito mais risco à saúde de mãe e bebê do que o parto normal. Em mulheres que tiveram uma gravidez tranquila, com exames sempre ok, com feto bem posicionado, o risco é muito, muito pequeno mesmo. Sim, essa mulher tem total condição de ter seu bebê em casa mesmo, acompanhada por uma boa equipe.

Ainda existem as parteiras tradicionais, sim, aquelas que aprendem com as antigas e acompanham partos com um saber não acadêmico, mas pautado na prática; mas existem também as parteiras modernas, enfermeiras obstetras ou obstetrizes, que tem total preparo tanto acadêmico quanto prático para acompanhar partos. As parteiras modernas levam para a casa da mulher todo o material necessário para socorro imediato (como oxigênio, material de sutura, etc.) e acompanham a mulher na gravidez de modo que tenham já elaborado um plano B caso alguma coisa não saia conforme o planejado. Ninguém deseja levar a ideia do parto natural até as últimas circunstâncias, não! A segurança é prioridade. Se algo não estiver saindo conforme o planejado, transfere-se a mulher para um hospital.

Eu passei pelas duas experiências. Minha primeira filha, Alice, nasceu em hospital particular; Heitor, meu caçula, nasceu em casa. Do nascimento da Alice, minhas boas lembranças foram a presença da minha irmã, do meu tio, da minha prima e da minha doula. Sou dessas, me sinto segura quando estou cercada pelas pessoas que eu amo, e a médica e a equipe do hospital abriram exceção para que meu parto se tornasse uma festa. Porém, me senti extremamente pressionada, como se minha barriga fosse uma bomba relógio prestes a explodir caso a criança não nascesse logo; os batimentos cardíacos da Alice foram auscultados uma única vez durante o trabalho de parto e o aparelho de pressão da sala de parto estava quebrado. Além disso, minha filha foi separada de mim ao nascer e foram feitos vários procedimentos que considero, além de desnecessários, invasivos e cruéis. Heitor nasceu em casa, acompanhado pela equipe Luz de Candeeiro. Não tenho nenhuma lembrança desagradável do trabalho de parto, parto e pós-parto. Fui respeitada, acolhida, abraçada e cuidada. Me senti completamente segura, pois as parteiras a todo tempo monitoravam minhas contrações e os batimentos cardíacos do Heitor. Quando ele nasceu, foi examinado no meu colo e pesado e medido ao meu lado, na minha cama. Eu tenho plena confiança de que em gravidez de risco habitual o parto domiciliar é mais seguro do que o hospitalar.

Para terminar, quero deixar duas imagens. A primeira, é da minha família, na minha cama, e foi tirada cerca de 8 horas após o nascimento do Heitor. Todos juntos, não nos separamos em momento algum. Descansados, felizes, gratos. A segunda imagem é um convite da equipe Luz de Candeeiro, que foi a que me acompanhou, para uma roda de conversa sobre o parto domiciliar, para quem quiser saber um pouco mais sobre esse assunto.




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