quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Exame de strepto B deu positivo, e agora?

Essa semana, estava conversando com uma colega cuja irmã está grávida. Segundo ela, a moça está desesperada porque o exame de strepto B deu positivo e o médico já a encaminhou para uma cesárea. Ouvir essas coisas me causa uma dor que eu nem sei explicar para vocês, sabe?! Porque qualquer um que estude minimamente parto sabe que essa não é uma indicação de cesariana, imagina quem estudou a fundo, né, nesse caso, um obstetra? Mais uma mulher que terá seu sonho do parto normal roubado na maior cara de pau do mundo… Enfim, esse diálogo me fez sentir a necessidade de esclarecer melhor vocês todas e todos sobre o que é, afinal, esse streptococus, que riscos representa, o que fazer se o exame for positivo.
Streptococus galactiae é o nome científico de uma bactéria extremamente comum, que coloniza a bexiga e as regiões vaginal, intestinal e retal das mulheres. Ela está presente na região genital de cerca de 30% das mulheres grávidas. Não é uma DST, ou seja, não é transmitida por via sexual. As mulheres que apresentam o Streptococus na região vaginal geralmente foram contaminadas pelas suas próprias bactérias, vindas do intestino ou da região retal. Na maioria dos casos, o strepto positivo não gera nenhum sintoma e nenhum dano físico.
Quando a mulher grávida apresenta o strepto B positivo, seu bebê pode ser colonizado por essas bactérias (em média 50% dos bebês o são). A princípio, isso não gera nenhum problema, o sistema imunológico do bebê consegue combater essa bactéria simples.
Entendido isso, vem a grande questão: o que essa bactéria pode causar? Por que o alarme?
Em uma pequena parcela das mulheres infectadas pelo strepto, pode acontecer infecção urinária ou uterina. No bebê, em raríssimos casos, pode-se desenvolver pneumonia, meningite, dentre outras infecções. Geralmente os sintomas já aparecem no primeiro dia de vida, mas podem aparecer até o 7º. Quero destacar as expressões 'pequena parcela' e 'raríssimos casos'. Depois quem quiser pode me pedir os estudos, estamos falando de uma porcentagem realmente ínfima.
E se meu exame de strepto der positivo? O que se faz para combater essa bactéria?
No Brasil, não há consenso sobre o combate ao strepto. No SUS, o exame sequer é obrigatório. O que eles fazem é ministrar antibiótico a mulheres que tenham parto prematuro, febre inexplicada, bolsa rota por mais de 18 horas, infecção urinária causada por strepto ou bebê anterior que tenha sido contaminado pela bactéria.
Além disso, uma mulher que faça o exame e receba resultado negativo não está necessariamente livre do problema, visto que entre a realização do exame e o parto ela pode ter se contaminado.
Não há estudos ainda sobre o uso de antibiótico oral em mulheres com exame de strepto positivo. Além disso, o uso de antibiótico pode baixar a imunidade da mãe. Por isso indica-se mesmo o antibiótico intravenoso na hora do trabalho de parto.
Mas e aí? Não é mais seguro fazer uma cesariana se o exame do strepto der positivo?
Tenho ouvido relatos como o dessa minha amiga, com médicos dizendo que o parto normal com strepto positivo é um grande risco, pois o bebê pode ser infectado e morrer. A primeira resposta que tenho é que apenas 1 a 2% dos bebês de mães com strepto positivo desenvolvem algum tipo de infecção. A segunda é que se for ministrado antibiótico durante o trabalho de parto, as chances são reduzidas em 89%. E a terceira é que é sério, gente, cesariana é uma cirurgia, que envolve muuuuuito, muuuuuuuito, mas muuuuuuito mais mesmo, mais riscos para mãe e bebê do que um strepto positivo.
O tratamento para infecção é antibiótico, não cirurgia!

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