terça-feira, 19 de abril de 2016

Relato de parto: chegada do Thor, filho da Rafa

Obaaaa! Mais um parto!


A Rafaela me procurou muito no comecinho da gravidez, quando a barriga nem aparecia ainda. Tivemos um longo período para nos conhecermos, ganharmos intimidade, trocarmos experiências. Ela queria um parto normal e se preparou em todos os detalhes: pilates, fisioterapia, cursos preparatórios, pré-natal duplo (pelo SUS e pelo convênio), muitas e muitas rodas. Como ela queria parir na casa de parto de São Sebastião, cuidou bastante da saúde e teve uma gravidez tranquila e sem intercorrências.

Na semana que precedeu o nascimento do Thor, ela sentiu muitas cólicas, perdeu tampão várias vezes, teve sangramento intenso após um toque do médico, teve falso trabalho de parto. Ficamos ainda mais próximas, pois a cada novidade ela entrava em contato comigo em busca de orientação. Na manhã do sábado, ela disse que as contrações estavam se intensificando, e eu a orientei a descansar, pois iria precisar de energia para quando o trabalho de parto viesse pra valer. Ela tomou um banho, deitou e as contrações passaram.

Nesse meio tempo sem contrações, estava eu atendendo o parto da Cláudia, que você lê aqui. Cheguei do parto dela, tomei um banho e dormi. Às 22h, a Rafa me ligou dizendo que as dores estavam muito intensas. Peguei minha malinha e rumei pra casa dela.

Quando cheguei na casa dela, ela estava sentada no vaso sanitário - um local paradisíaco para a maioria das grávidas, porque conseguem sentar sem ter pressão na região pélvica e não precisam se preocupar com os vários líquidos e mucos perdidos ao longo do trabalho de parto. Peguei um banquinho, sentei na frente dela, fiz com que ela comesse umas castanhas e bebesse água, e ficamos conversando e cronometrando as contrações. Rimos bastante, lembramos alguns momentos durante a gravidez e, durante as contrações, eu a ajudei a respirar e se concentrar. Como era de madrugada e não havia trânsito, nos demos ao luxo de curtir aquele momento com calma, mesmo sabendo o longo trajeto que nos esperava até a casa de parto.

Quando as contrações estavam regulares a cada 3 minutos, bem intensas e durando cerca de 50 segundos, sugeri irmos para a casa de parto. A Rafa tomou um banho, e a posição vertical só intensificou as contrações, que começaram a vir uma em cima da outra. Ela se agarrou num rodo e ficou se movimentando de um lado pro outro, sem conseguir sair do banho porque as contrações não davam folga. Foi a hora do "Mulher... pelo amor de Deus... vambora, vamo?!" - e fomos.

Só que o marido da Rafa é bombeiro e nós tínhamos que ir em dois carros, e ela foi no dele. Ai, que arrependimento! O homem saiu literalmente desembestado, desrespeitando todos os limites de velocidade, a coisa de 110 km/h! E eu não queria deixar os dois desacompanhados, porque as contrações estavam intensas demais e, se o Thor decidisse nascer, eles iam precisar de ajuda. Resultado: saí louca desembestada atrás, e a cada quebra-molas e buraquinho só pensava que a Rafa devia estar sofrendo, tadinha.

Pois foi bem assim, mesmo. Quando descemos, a Rafa desceu do carro xingando o Rômulo e fomos fazer a ficha e exame. Thor estava super bem e forte, Rafa com 7 cm. Eram coisa de meia-noite quando fomos internados. Passamos as contrações na banqueta de cócoras, principalmente, porque, assim como o vaso sanitário, era confortável para ela sentar sem pressão na área pélvica. As contrações foram ficando muito, muito doloridas. Só que deu uma, duas, três, quatro da manhã e nada do Thor dar o ar da graça. O último toque já tinha mostrado dilatação completa, mas a descida dele estava lenta e difícil. As dores da Rafa estavam já passando do suportável e ela se agarrava ora a mim, ora ao Rômulo, pedindo pelo amor de Deus que alguém fizesse alguma coisa. Oferecemos a ela o que podíamos: muitas palavras de encorajamento, massagens, carinho e pedidos de que ela fosse forte. A equipe da casa de parto se mostrou toda muito, muito respeitosa e querida, examinando de tempos em tempos, de modo delicado e não invasivo, e também oferecendo palavras de apoio.

Só que, nesse tempo todo, a Rafa permaneceu basicamente só na banqueta de parto, sempre de cócoras. Sugeri a ela que fosse para a cama para tentarmos uma posição de quatro apoios, porque aquela posição já não estava ajudando o Thor, uma vez que o parto tinha parado de progredir. Ficamos em quatro apoios e - se é que era possível - as contrações intensificaram. Naturalmente ela se movimentava para frente e para trás e às vezes ficava em uma posição meio torta, essas coisas lindas do corpo da mulher procurando a posição ideal para ajudar o bebê. Aos poucos ela foi fazendo força e, finalmente, o Thor deu o ar de sua graça. Primeiro a cabecinha e, na contração seguinte, a explicação de por que aquele expulsivo tão difícil e prolongado: ele estava com a mãozinha no rosto, como já tinha sido flagrado várias vezes no ultrassom, e a posição do bracinho provavelmente ia "freando" o corpo na descida.

Olha, foi um trabalho de parto bem difícil e muito dolorido. Tanto que, quando o Thor nasceu, a Rafa precisou de uns minutos até conseguir entender o que tinha acontecido, se virar na cama e pegar o filhote. Aí entrou o mais lindo, e que eu ainda não tinha tido a oportunidade de vivenciar em nenhum outro lugar: o respeito ao recém-nascido. Thor foi colocado no colo da Rafa e coberto com um lençol. Não houve pressa para clampear o cordão ou para o nascimento da placenta. Ninguém queria levá-lo para lugar nenhum e até a hora que fui embora - uma hora e meia após o nascimento - ele não tinha sido pesado nem medido. O tempo todo ali, no colo da mãe, super sereno, quase não chorou. Os dois descansando do longo trabalho de parto, os dois se conhecendo, se olhando, a coisa mais linda. Quanto ao Rômulo, vale dizer também que ele quase infartou quando nasceu a cabecinha roxinha e imóvel, acho que na coisa de 3 minutos até o Thor terminar de sair ele sequer respirou. E após o nascimento, como babava! Uma família muito linda!

Felicidades a essa família tão querida! Que o lindo Thor traga muita felicidade ao lar de vocês!

terça-feira, 12 de abril de 2016

Relato de parto: chegada de Helena, filha da Cláudia

Obaaaa! Hoje tem relato de parto!



Meu primeiro encontro com a Cláudia foi no final de dezembro. Desde então, nos encontramos praticamente todas as semanas, conversando sobre gestação, parto e pós-parto. Foram muitas rodas, muitas conversas, muita, muita, muita informação. Uma mulher de personalidade forte, muito empoderada, muito segura, grávida de sua primeira filha e fazendo absolutamente tudo que estava ao alcance dela para ter um parto normal, que considerava mais seguro e cheio de benefícios para ela e para a filhinha, Helena. Além das rodas, era fácil perceber que ela também buscava sempre ler sobre o assunto, assistir vídeos de parto e se preparar fisicamente, com pilates e fisioterapia. Cada um desses fatores teve seu papel para que ela tivesse o parto com que tanto sonhou.

A Cláudia vinha em pródromos desde o dia anterior (08/04), e lidando muito bem com isso. Tampão saindo rajado de sangue, contrações doloridas, mas sem ritmo. Íamos nos falando de tempos em tempos, para eu me atualizar do andamento das coisas e sempre deixando claro que a qualquer momento em que ela sentisse que realmente precisasse de mim, era só chamar.

Por volta do meio-dia, ela me ligou. As contrações estavam já muito doloridas, e ela precisava de apoio. Quando eu cheguei lá, o Deivinin já estava de câmera no pescoço, chave na mão e desespero no rosto. E a Cláudia na bola, debaixo do chuveiro, respirando, tranquila. Conversei com ela um pouquinho e expliquei que naquela hora a prioridade era acalmar o pai....kkkkkkkk Sentei com ele para a seguinte explicação:

"Então... sabe essa dor que ela está sentindo? Ela ainda vai mais que dobrar... As contrações não regularam ainda... Pode se acalmar, almoçar, que ainda demora um pouco pra gente ir pro hospital." - Deu certo, ele acalmou.

Então ficaram os dois um bom tempo no banheiro conversando, bolsa rompeu, Deivinin almoçou, Cláudia comeu açaí, assistimos bobagem na televisão, criamos grupo no whatsapp para ir atualizando a família e os amigos, e desse jeitinho, tranquilo e divertido, as contrações foram se intensificando e regularizaram de 3 em 3 minutos. Meu papel foi, até aí, apenas de manter os dois tranquilos e seguros de que tudo estava dentro do previsto, continuando no aconchego do lar até que o parto evoluísse o suficiente para justificar a ida ao hospital. Agora, sim, meu, povo, hora de ir para o hospital. Usei um rebozo para que a Cláudia tivesse em que se agarrar durante as contrações (trem bom é puxar pano quando a gente está com dor!). Eram 15:30.

Chegamos ao hospital e muito prontamente encaminharam a Cláudia para triagem e exames. Coraçãozinho de Helena batendo muito bem, Cláudia com (uaaaaaaaaau, todo mundo muito surpreso) 7 cm de dilatação, colo bem fininho e bebê já bem lá embaixo. Toda a preparação que ela fez antes do parto, mais a aceitação de cada contração como parte natural do processo, (tá ok, tá ok, uma ajudinha boooa da genética também) fizeram com que o corpo dela respondesse muito bem. A plantonista ficou impressionada com uma evolução tão rápida em uma primeira gestação e já entrou em contato com o dr. Marcondes, médico dela, que pediu que a deixassem num dos boxes de observação e voltassem a fazer o exame de toque em uma hora. Eram 16:30.

Deivinin foi cuidar da burocracia da internação e eu fiquei com a Cláudia. As contrações se intensificaram e ela disse que estava com vontade de fazer força. Que que a doula diz nessa hora? Faz força, ué.... E ela foi fazendo caras, barulhos e forças que caracterizavam muito bem o período expulsivo do parto. E aí a doula faz o quê? Massagem na lombar, encorajamento e tranquilização. "Faz sua força tranquila... O máximo que vai acontecer é nascer aqui e não no centro obstétrico, já estamos no hospital, rodeados de profissionais de saúde". Ela entendeu, riu, curtiu e foi fazendo força e gritando a cada contração. Uma enfermeira percebeu que a coisa estava séria e correu pra chamar a médica plantonista, que fez o toque, constatou 9 cm e mandou subir com ela para o centro obstétrico. Eram 17:20.

Deivinin e eu ganhamos o prêmio de velocidade do hospital, nunca vi duas pessoas colocarem uma roupa cirúrgica mais rápido do que a gente, kkkkkkk! Ainda bem, porque chegamos lá e, três contrações depois, nasceu a linda Helena, no dia 09 de abril, às 17:40, com 51 cm e 3,310kg. Infelizmente, estava acontecendo uma cesariana no mesmo horário, então a pressa para "liberarem o pediatra" foi imensa, e tiraram ela de perto da mãe rápido demais. A Cláudia estava radiante, luminosa, tranquila. Ninguém acreditaria que ela tinha acabado de parir uma criança (se não acredita, olha ali em cima na montagem a foto em que ela está dando um joinha, foi menos de 15 minutos depois do nascimento da Helena). Um parto rápido, cheio de felicidade e paz, sem qualquer intervenção, melhor do que em nossas melhores expectativas.

Parabéns, Cláudia! Parabéns, Deivinin! Foi mágico participar dessa gravidez e desse nascimento, vocês são o máximo!

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Aprendizados de roda

Hoje teve roda de grávidas! Cláudia e Rafaela, ambas já nos 45 do segundo tempo, vieram pra gente trocar figurinhas, papo e comadre.



Falamos sobre criação de filhos, desde os primeiros dias até os primeiros anos, sobre parto e intervenções tanto com a mãe quanto com o bebê,  sobre bolsa de maternidade, sobre início do trabalho de parto... brincamos, rimos bastante, as meninas levaram pra casa um chazinho pra ajudar a relaxar a cabeça nesses últimos dias de neném no forninho.

Já quase na hora de nos despedimos, a Cláudia nos presenteou com uma pérola de sabedoria que estou incorporando ao meu discurso agora: se o que você quer fazer não é o que todo mundo faz, não fale.

O contexto foi a Rafa contando que vai mandar encapsular a placenta para ir tomando depois da gestação. Há vários relatos dos benefícios que isso traz, mas ainda causa estranheza nas pessoas, mas ela ficou assustada com a reação das pessoas para as quais ela contou isso.

Aí fiquei pensando que em termos de gravidez e criação de filhos, essa história de se você não for fazer o que todo mundo faz, não falar, faz todo o sentido. Perto natural? Parir em casa? Deixar o cordão parar de pulsar? Criar sem bater? Amamentar em livre demanda? Se você não quiser discutir a fundo o assunto e fazer seu papel de educadora, simplesmente não mencione. Dá mais certo.

Rafa, Claudinha... muito amor, tranquilidade e paciência para esses últimos dias. Titia está louca pra conhecer esses bebês!

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Playlist de parto


No vídeo acima, eu explico por que é muito bacana fazer uma playlist de parto (sequência de músicas em um pendrive, para ouvir durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato).

Após o vídeo, segue abaixo as minhas top 10 para parto:

1. Sabemos parir, de Rosa Zaragoza
2. Reconhecimento, Isadora Canto
3. Debaixo d'água, Maria Bethânia
4. Pra você guardei o amor, Nando Reis e Ana Cañas
5. Vilarejo, Marisa Monte
6. Can you feel the love tonight, Elton John
7. Do amor, Tulipa Ruiz
8. Oração ao tempo, Caetano Veloso
9. Só tinha de ser com você, Tom Jobim
10. Just breathe, Pearl Jam

E aí?! Corre pra fazer a sua!

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O tampão mucoso

Ao passar das semanas, as mulheres grávidas costumam "procurar" os sinais do trabalho de parto. Pequenas cólicas, algum líquido que escapa, tudo é motivo para pensar se é, enfim, o tão esperado trabalho de parto. Pois o post de hoje é sobre um dos sinais da aproximação do trabalho de parto: a perda do tampão mucoso.

O tampão mucoso, ou rolha de Schroeder, tem a função de evitar a chegada de bactérias ao útero. É um muco espesso, que sela o colo do útero, protegendo-o de qualquer ameaça exterior. A saída do tampão significa o início do processo de dilatação do colo do útero, que é o que faz com que a secreção seja liberada.


A saída do tampão deve ser, é claro, celebrada pela mulher, afinal, é uma confirmação de que está tudo bem com seu organismo, que o trabalho de parto se aproxima, que seu corpo está se preparando para a chegada do seu tão aguardado bebê. Porém é preciso dar um tempinho na ansiedade... Porque não significa que você vai entrar em trabalho de parto na hora, nem no mesmo dia, nem na mesma semana... Após a saída do tampão, pode demorar até duas semanas para que as contrações cheguem pra valer, então não adianta agonia! Comemore o acontecimento, mas vida que segue como se nada tivesse acontecido, ok?!

Pra me despedir, ficam duas fotos do tampão mucoso de uma doulanda. A quantidade que sai costuma ser bem superior à retratada na foto, mas muitas mulheres perdem o tampão aos poucos, foi o caso dela. Pode tanto sair um montão de uma vez (tipo uma mão cheia), quanto cada vez que você vai se limpar sai um pouquinho do muco. A cor pode ser como a da foto, bem clarinha, ou pode ser mais amarelado, mais amarronzado ou mesmo acompanhado de uma raiazinha de sangue ou de um pouquinho mais de sangue, mesmo.




É isso! Boa saída de tampão par você, kkkkkkk!

domingo, 3 de abril de 2016

Ser doula...

Ando bem sentimental esses dias, pensando na minha trajetória até aqui como doula. Engraçado como é um trabalho ainda mais extenuante do que a sala de aula, mas como saio de cada conversa, de cada roda, de cada parto extremamente revigorada. É sempre mágico conversar com uma mulher que está fabricando outra pessoa, com várias ao mesmo tempo, então... puxa... Tranquilizar uma mulher que está parindo, ajudá-la a perceber que tudo está indo bem e aliviar um pouco a sua dor, abraçar essa mulher que está em um momento tão frágil e simplesmente estar ali para o que ela precisar... e, como prêmio, ver uma nova vida chegar ao mundo, o  momento exato em que um bebezinho faz sua estreia na vida real... Olha, é uma profissão sensacional MESMO... 

E o resultado desse trabalho... Ah... É indescritível. Mas vamos a uma foto que mostra o que é um dia no meu whatsapp...