A foto que ilustra esse texto foi tirada no primeiro minuto de vida do meu filho caçula, Heitor Lucas. Como mudou o papel do homem em relação ao nascimento, não?! Assim como seria impensável há uma geração as mulheres ocuparem determinados locais tradicionalmente masculinos, também há uma geração o papel do homem no parto se resumia a dirigir até a maternidade e depois esperar o nascimento para acender um charuto e comemorar.
Hoje, vemos cada vez mais homens com o desejo ardente de ser parte desse momento. Não são todos, ou não querem participar de tudo, mas eu tenho acompanhado com satisfação homens que fazem questão de estarem presentes inclusive nos encontros comigo, nas consultas, nos ultrassons, que querem saber o que fazer durante o trabalho de parto. E torço muito, muito mesmo, para que esse movimento se multiplique, porque a presença do homem no parto só tem a somar. Precisamos mesmo restituir à mulher o protagonismo do parto, mas não podemos negar ao homem o papel que cabe a ele nesse evento tão marcante.
O parto é uma extensão da sexualidade feminina. Foi a relação sexual com aquele homem que fez com que uma criança fosse gerada e, embora muitos tenham dificuldade de admitir, o trabalho de parto e nascimento estão repletos de sexualidade. São gemidos, gritos, posições e movimentos que remetem diretamente ao sexo. A presença do companheiro só tende a acentuar esse lado sexual e prazeroso do parto, sendo de grande alívio para a mulher. A simples presença dele faz com que ela libere mais ocitocina – o hormônio do amor – e que o trabalho de parto se conduza melhor. Tanto é assim que as parteiras tradicionais – que não permitem a presença de homens no parto – costumam pedir uma camisa do companheiro para que a mulher fique cheirando. Toda mulher sente medo durante o trabalho de parto, mas o toque, o abraço, o beijo, o amparo do companheiro deixam a mulher mais segura. Além disso, o homem vê ali uma nova mulher, até então desconhecida por ele: uma mulher muito mais forte, decidida, brava, capaz de colocar uma criança no mundo. E ele passa a ter uma admiração e um respeito ainda maiores pela companheira, pela importância e papel ativo dela no nascimento do filho dos dois.
O momento do nascimento é mágico para qualquer um que o presencie. Equipe médica, de enfermagem, parteiras, doulas, mãe, pai. Nenhum nascimento é igual a outro, mas há uma sequência de eventos assim que a criança nasce (e se a equipe permite, né?!) que são fundamentais. Primeiro, a mãe se conecta a esse bebê. Ela o vê pela primeira vez, ouve seu choro, sente seu cheiro, a textura da pele dele. Ela tem acesso ao seu filho real, sempre diferente daquilo que ela tinha idealizado, dá a ele as boas vindas, olha bem dentro dos seus olhos. Logo em seguida, o olhar dessa mulher busca o do companheiro. É como se ela apresentasse os dois, legitimasse essa relação, dizendo “Esse é seu filho… esse é seu pai…. Nós três conseguimos”. Segundo o doutor Ricardo Jones, a participação do homem no nascimento tende a reduzir os índices de violência doméstica. Ele terá certamente muito mais respeito pela mulher que pôs seu filho no mundo, e muito mais respeito pela criança que ele viu nascer. A vinculação entre esse homem e seu filho será certamente muito mais forte, pois ele será parte integrante desse nascimento, não apenas alguém que é comunicado dele e que vê o filho apenas depois de limpo e a mulher apenas depois de refeita do parto.
Reparem que tudo que eu falei até aqui independe de qualquer técnica, de qualquer treinamento, de qualquer saber. O papel mais importante do homem é o de estar presente, inteiro, companheiro. O resto vamos falando nas rodas, vamos ensinando, mas se o seu companheiro for capaz de simplesmente estar junto com você, de verdade, nesse nascimento, garanto que será uma experiência inesquecível e transformadora para toda a família.
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