quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A beleza e a importância do toque no trabalho de parto


Que parir é um dos momentos mais marcantes da vida de uma mulher, todas nós já sabemos. Que o trabalho de parto é um período cheio de superações e desafios, também. É bem provável inclusive que todas nós saibamos o quanto as palavras podem atrapalhar um momento em que a mulher precisa se aquietar, mergulhar no seu próprio universo e deixar a natureza agir e seu corpo trabalhar. O que, talvez, vocês não saibam é a diferença e a delicia que é receber toques carinhosos ao longo do trabalho de parto.

A comunicação verbal tende a ser extremamente irritante para a mulher em trabalho de parto, porque desperta o seu racional, quando a intenção é exatamente "desligá-lo" ao máximo. Perguntas durante a contração, então, são pra matar uma de ódio! Conversar com a mulher só mesmo entre as contrações, e de preferência só se ela puxar assunto, quiser falar, quiser papo.

A música suave e a ausência de palavras propicia à mulher um mergulho interior muito mais profundo, e um contato com sua natureza e com sua ancestralidade (o poder de parir é inato, e gerações e gerações de mulheres antes de você já pariram) muito forte. Nesse mergulho, é comum que surja de maneira muito forte o medo, sem que a mulher consiga elaborá-lo em palavras. O medo de alguma coisa dar errada, o medo de não dar conta, o medo de morrer, o medo de perder o bebê. Esses medos vão cruzando a mente da mulher como raios ao longo de todo o trabalho de parto, e ela vai tentando superá-los e afastá-los, confiar na sua capacidade de parir. Só que algumas vezes isso falha, e vamos "voltando à superfície", assustadas mesmo.

Nesse momento, ter alguém ao lado numa postura respeitosa e amorosa faz toda a diferença. Racionalmente falando, parece uma grande bobagem achar que alguém tocar no seu braço ou te abraçar com carinho vá afastar o medo da morte, né?! Mas afasta! Ter o tempo todo alguém ao lado simplesmente nos dando carinho e cuidando da gente ajuda a afastar todos os medos, toda a energia ruim, e nos ajuda a mergulhar de novo, com mais confiança.

E olhem que eu nem estou falando dos toques que aliviam a dor, como as massagens. Eu estou falando mesmo do afeto silencioso.

Lembro que, no parto do Heitor, quando as minhas contrações estavam muito assustadoramente fortes, eu segurei na borda da piscina e senti alguém (que só depois eu descobri que era minha mãe) fazendo um carinho na minha mão. As dores estavam tão fortes (dilatação total, já) que eu não conseguia abrir os olhos para ver quem era, mas aquele carinho parecia uma âncora, sabe, algo que me garantia que eu não iria me afogar, não iria me perder. Era só um carinho na mão, mas ganhou uma importância imensurável.

Nós, doulas, tocamos muito mesmo. Abraçamos, fazemos carinho nas costas, seguramos a mão, passamos a mão no rosto, acariciamos os cabelos... O toque ajuda a relaxar, ajuda a liberar endorfinas e serotoninas, hormônios amigos do parto. E o ambiente respeitoso de parto desperta na gente um amor tão grande por aquela mulher, nossa irmã, que está ali prestes a trazer uma nova vida a esse mundo, que esse toque é absolutamente espontâneo e natural, simplesmente entramos em sintonia com a mulher de uma forma quase mágica.

Ai, que vontade de doular! Bora parir, mulherada! kkkkkkkk!

Nenhum comentário:

Postar um comentário