quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Estela

Hoje nossa equipe reverencia a força e a perseverança da nossa querida Ana Paula. Ela teve uma cesariana que não conseguiu aceitar por não ter convicção de que fosse necessária e, por isso, na segunda gestação, decidiu empenhar-se ainda mais. Poucas mulheres que cruzaram meu caminho eram tão bem informadas, decididas, preparadas para parir.
Só que as forças do universo nem sempre conspiram a favor dos nossos planos. Estela não deu sinais de querer nascer antes das 42 semanas. E a nossa diva Ana foi firme até o fim. O meio termo que ela encontrou com a médica foi a indução, a qual tive a tristeza de acompanhar. Tristeza porque logo no início a pressão da Ana subiu e não diminuía com a medicação, o que fez a médica indicar a cesariana. Ainda assim, ela não estava convencida e pediu para que a ocitocina fosse retirada e ela ficasse em observação. A médica se recusou, se irritou. Foi um cabo de guerra, médica, enfermeira, técnicas em enfermagem, todo mundo pressionando para que a cesariana fosse feita naquele momento. A Ana já não conseguia pensar, muito menos decidir, só conseguia sentir o quanto não queria aquela cirurgia.
Pedi que todo mundo saísse e me desse 10 minutos com ela. Dei colo, respiramos juntas, procurando um pouco de paz e tranquilidade para que ela pudesse decidir o que fazer. Depois desse tempo, ela sentiu muito claramente que deveria ir embora. Então pediu a alta à revelia, e foi pra casa descansar, absorver, se recuperar. A médica então disse que não poderia mais acompanhá-la, a enfermeira também disse o mesmo.
Imagino o quanto essa noite deve ter sido difícil para ela! Quantas lágrimas, quantos medos...! Porém fico muito feliz de ela ter tido esse tempo para absorver e lidar com a iminência de uma cirurgia, e não ter sido empurrada para ela sem entender nada, como no nascimento da Alice.
Ontem, então, veio a última tentativa dela. Foi ao HMIB, dessa vez com o coração disposto a aceitar qualquer que fosse a decisão médica. Ainda assim, não foi fácil - ela discutiu com praticamente todos os médicos do hospital. Mas a indicação da cesariana foi unânime entre eles e, assim, às 18:04 do dia 27/09, nasceu Estela, com 50cm e 3,140kg.
Incrível como ter filhos, da concepção ao final da vida deles, é tudo sobre perder o controle. Mas é muito difícil quando nosso parto não é como a gente espera. E é complicado para as pessoas entenderem como uma mulher pode estar triste apesar de ter acabado de receber seu filho. Mas a verdade é que a tristeza pelo parto perdido se separa bem da alegria por ter uma criança. Não é preciso sentir uma coisa ou outra, os dois sentimentos podem, sim, conviver. E a elaboração desses sentimentos leva mesmo um tempo.
A você, Ana, minha gratidão por ter me permitido ser parte desse sonho. Estarei com você também na elaboração desse sentimento, tanto quanto você me permitir.
(Elisa Costa)

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