quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Arthur

A Aline estava sendo acompanhada pela Clarice e pela Marcela. Nós não nos conhecíamos pessoalmente. Mas o destino escreve as coisas da forma como elas têm que ser. No dia anterior, ela tinha tido várias contrações e parado nos 4 cm, o parto simplesmente parou de progredir. Aí ontem de manhã as contrações voltaram com tudo. Só que Marcela já estava atendendo a Daiana (que pariu em casa, não deu tempo de chegar ao hospital - relato em breve) e a Clarice estava acompanhando a mãe numa cirurgia. E eu? Eu estava de boa na lagoa, kkkkk!
Parti para o Hospital Regional da Samambaia e cheguei lá por volta das 10h, antes da Aline. Aproveitei que cheguei antes e fui ao administrativo conversar sobre a lei do parto humanizado e sobre minha entrada, como doula. A servidora foi muito gentil, tentou negociar com a equipe, mas disse que o hospital estava muito lotado, que estavam mandando gestantes para Santa Maria, e que não estava entrando nem acompanhante. Que o C.O. era muito pequeno e era impossível entrarem duas pessoas com a parturiente.
Quando Aline chegou, expliquei para ela a situação e ela achou melhor não se internar e ir pra casa da esposa do primo dela, o que foi uma decisão acertadíssima. Lá, ela ficou alternando entre o melhor amigo chuveiro e o sofá, na medida do possível eu massageava as costas, acalmava e a ajudava a passar pelas contrações tranquilamente.
Depois do almoço, as contrações se intensificaram e ela disse estar sentindo vontade de fazer cocô. Começou a apresentar alguns sinais de transição (quando a mulher está perto do período expulsivo) e disse que queria ir para o hospital. Conversamos e decidimos ir para o HUB. As contrações começaram a vir quase que sem intervalo, e eu realmente achei que ela fosse parir no carro.
Chegando lá, rapidamente ela foi examinada e estava com 5cm de dilatação. Ela foi internada, e eu me surpreendi muito positivamente com o hospital. Bola, banqueta, um espaço grande, chuveiro à disposição e uma equipe tranquila e humanizada. Como era de se esperar, Aline ficou muito frustrada com a dilatação ainda baixa e ficou triste e calada, sofrendo com a situação. Coloquei uma música, ela foi para o chuveiro, no escuro. No exame seguinte, pouco tempo depois, ela já havia evoluído para 6cm, e eu vi uma nova Aline surgir. Aquele centímetro deu disposição a ela, trouxe de volta a alegria e começamos a fazer exercícios na bola, rir, brincar. Foram momentos maravilhosos, intercalados por dores e chuveiro quente, muito quente. E fomos assim, abraço a abraço, centímetro a centímetro.
Ao chegar aos 9cm, a dilatação estacionou. Segundo a médica, havia ainda uma bordinha de colo que não queria ceder. Ela recomendou a ocitocina sintética, e Aline aceitou. A partir daí, tudo aconteceu muito rápido. As contrações vieram rasgando, ela encontrou uma posição favorável, foi fazendo forças até que, em uma delas, eu consegui ver o cabelinho do Arthur. Chamamos a equipe, que veio para o quarto (Sim, gente, no HUB pré-parto, parto e pós-parto acontecem no mesmo lugar, e isso é mais maravilhoso do que consigo expressar em palavras) receber o pequeno. Aline foi uma guerreira, sentiu o círculo de fogo vir com tudo, seguiu firme nas forças durante as contrações e pouco depois da 0h do dia 26 de setembro nasceu o Arthur, com 47cm e 4,075kg (quebrando o recorde que era do Henrique da Hileana, 4,005kg).
O brilho que vi nos olhos da Aline, a felicidade estampada no rosto, a sensação de absoluta realização são inesquecíveis, e ela deixou sua marca para sempre na minha vida. Arthur chegou forte, chorando alto, com olhos curiosos e apaixonados pela mãe. Foi examinado no colo, já foi apresentado ao seio materno na primeira hora, toda equipe muito cuidadosa para que a hora de ouro não fosse perdida.
Foi emocionante, gente. Quando há afeto e respeito, o parto é uma experiência linda e marcante. Gratidão Aline, gratidão Arthur.

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