sábado, 10 de dezembro de 2011

O parto da Alice


Só pra fechar legal o assunto 'parto' antes de passar para tópicos mais amenos, segue o relato detalhado do nascimento da minha pequetucha número 1:


“Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade” (Raul Seixas)

Sempre sonhei em ser mãe. Ainda adolescente, sonhei estar grávida e chorei copiosamente quando acordei e vi que a barriga não estava lá. Sempre sonhei ter um filhotinho que precisasse de mim pra tudo, que se formasse dos meus tecidos, que se alimentasse do meu alimento, que me perpetuasse para sempre e me fizesse ter a certeza de que minha passagem pela Terra não foi vã.

Descobri-me grávida em março deste ano, na primeira ovulação após parar o anticoncepcional. O sentimento de perplexidade era ainda maior do que a felicidade, uma sensação de que não era possível que uma coisa tão abençoada fosse real. E era. Meu marido e eu estávamos, a partir daí, vivendo, juntos, nosso maior sonho. E junto conosco, um monte de gente de vários lugares do Brasil. Através da GPM conectei-me a outras mulheres que seriam mães em novembro, e que se tornaram grandes amigas reais, e a outras tantas mães e futuras mães. Diariamente aprendendo sobre o que fazer e desenvolvendo, junto com o sonho Alice, o sonho de um parto normal. Sonho que se sonha junto, meninas, é realidade.

Foi MUITO DIFÍCIL encontrar uma estrutura de apoio ao meu sonho. Todo médico nesse país diz que faz parto normal. Todos os que eu visitei diziam fazer. E eu não acreditava em nenhum deles. Tornei-me presunçosa, orgulhosa, queria, sim, saber mais do que eles. E, desculpem-me, eu sei mesmo. Eu me preparei, eu estudei, eu li, eu me informei de todas as maneiras possíveis para saber o que queria e podia. Finalmente encontrei minha doula, Rafaela, que conseguiu minha tábua de salvação: doutora Luciani Fiori. Ela não faz parto normal pelo meu convênio, mas abriu uma exceção a pedido da Rafa. E o sonho começou a se concretizar.

Tudo certo: ginecologista, doula, hospital, acompanhante, enxoval, quarto, móveis. Tomando chá de folha de framboesa todos os dias. Tudo pronto pra chegada da Alice, só faltava um detalhe: ela querer chegar. As pessoas perguntavam: “Essa menina não vai sair daí mais não?” e eu respondia: “Não. Ela assiste ao Jornal Nacional comigo todos os dias, pra que que ela vai querer sair da barriga?”. E ia levando aparentemente despreocupada. Mas a cada dia, a partir das 38 semanas, minha ansiedade tornava-se maior e maior.

No final da 39ª semana, a dra Lu disse que esperaria até 40 semanas e 5 dias, depois disso marcaria a indução. Fiquei desesperada. Como disse, li muito, e só pensava em vários relatos de parto que acabaram em cesárea por causa de induções que não funcionassem. Por mais que soubesse que a gestação poderia ir até as 42 semanas, me sentia incompetente, como se não desse conta de fazer o que toda mulher nasceu pra fazer. Com 40+5, tinha consulta. Íamos marcar a indução. Mas os céus conspiram a favor de um sonho: tudo deu tremendamente errado. Tudo. Os dois carros deram defeito, meu marido teve uma série de problemas, eu dando crises de choro, a doula cancelou consulta, enfim: tudo muito difícil. No meio de muito estresse, saí para caminhar.

Gente, quem me via na rua achava que eu era doida. Sério. Eu ia andando rápido, em ritmo de exercício, e, de tempos em tempos, agachava. No meio disso tudo, ia falando com Alice na barriga. Expliquei a ela que, se decidisse sair dali, eu iria trabalhar junto com ela, e o nascimento seria um momento de nós duas. Que se ela não quisesse, teria um remedinho ajudando, e que ela talvez não gostasse. E que mesmo com o remedinho, poderia ser que tivessem que tirar ela de lá sem ela querer. Enfim, conversei com ela, me exercitei, chorei. Em casa, escrevi pra ela uma longa carta, explicando como me sentia e como as coisas poderiam evoluir.

De madrugada, nessa mesma noite, fui ao banheiro e expeli uma quantidade pequena de sangue, creio que o tampão. Começaram umas cólicas bem parecidas com as de menstruação, fininhas e que iam e vinham. Senti essas dorezinhas a manhã inteira, e o fato de elas irem e virem me fez pensar que poderia ser o início do trabalho de parto. Os vários relatos que li me fizeram ficar calma e lembrar que esse estágio costuma durar muito tempo, às vezes dias. Comecei, por via das dúvidas, a cronometrar as contrações usando o “contraction master”, a ferramenta indicada pela Melissa (MARAVILHA! NOS AJUDOU MUITO NO PROCESSO!), e o intervalo entre elas ia variando entre 6 e 14 minutos, sem grande regularidade.

Às 13h30min, consulta com a doutora Lu. Ela fez o toque, viu que eu tinha 2 cm de dialatação e descolou as membranas. Disse que se até sábado de manhã nada acontecesse, ia induzir. Deixamos combinado assim. No caminho pra casa, as tais cólicas se intensificaram. No trajeto entre o consultório e minha casa, que dura uns 30 minutos, tive umas quatro. Já eram, oficialmente, as contrações. Eu sabia que as coisas estavam acelerando, mas ainda estava um tanto descrente, com medo de me deixar empolgar pelos tais pródromos.

Em casa, deitada, as contrações se intensificaram. Descobri, então, o que era a tal dor do parto. Ô, gente, não vou enganar vocês, não: é horrível, dói demais da conta! Mas sendo totalmente sincera: vale a pena cada dor. Bom, as contrações se regularizaram rapidamente. Às 16h, já vinham de 4 em 4 minutos. O problema é que a duração delas era grande (entre 1,5 e 2 minutos) e eu quase não tinha intervalo para descansar. Fiquei com medo de que alguma coisa estivesse errada, pois tudo estava evoluindo rápido demais. Marido ligou pra doula, que pediu que fôssemos até o consultório dela (fica no mesmo corredor do consultório da dra Lu e é caminho para o hospital onde eu ganharia bebê). Chegando lá, fui direto pra dra Lu, que fez o toque e viu que eu estava com 4 cm de dilatação. Eu estava muito nervosa e cada contração me enlouquecia. A Rafa me levou, então pro consultório dela. Colocou nas minhas costas um aparelhinho que trouxe da Inglaterra e que ajudava a aliviar as dores (ele vai dando choquinhos ritmados em pontos estratégicos das costas) e me ensinou a respirar e a lidar com as contrações quando elas vinham. Santa Rafa: as dores eram as mesmas, mas eu conseguia me manter calma e visualisar minha Alice descendo e fazendo a parte dela Eu não conseguia falar, mas em pensamento dizia o tempo todo: É isso mesmo, filha! Não precisa ter medo de machucar a mamãe! Você está fazendo a sua parte e a mamãe está fazendo a dela, você vai nascer pelo trabalho de nós duas!

Do consultório da Rafa, direto para o hospital. Às 20h, dra Lu passou pelo quarto e fez novo toque: 8 cm. Nem acreditei! 6 cm em 4 horas! Bendito chá de folha de framboesa, eu tenho CERTEZA de que foi ele o responsável pelo TP rápido! O problema é que Alice ainda estava muito alta. Dra Lu e a doula queriam que eu me movimentasse, agachasse durante as contrações, enfim, tentasse fazer Alice descer, mas qualquer coisa que eu fazia nesse sentido fazia com que as contrações doessem MUITO mais, e eu simplesmente não conseguia. Aí eu, que estava muito controlada, comecei a chorar e a me descontrolar. A Rafa, então sugeriu analgesia leve, e eu aceitei. Fui andando até o centro obstétrico, parando a cada contração.

Aplicar a peridural foi um trabalho imenso. Tenho uma tatuagem precisamente em cima da coluna (para esconder uma cicatriz de uma cirurgia de coluna), então o anestesista tinha que encontrar um ponto sem tinta, furar, desviar do fio de platina que foi colocado na tal cirurgia, isso tudo comigo tendo uma contração em cima da outra. E ele, ainda assim, fez um trabalho formidável: eu sentia ainda as dores da contração, conseguia fazer força e senti perfeitamente minha filha passando pelo canal vaginal e saindo.

Sim, o expulsivo. UMA DELÍCIA!!!! Eu, que tinha tanto medo da saída do bebê, adorei tudo. Amei fazer força. Uma depois da outra. Na sala do parto, meu marido à direita, minha doula à esquerda, meu tio (enfermeiro) observando, minha prima (técnica em enfermagem) tirando as fotos. Apesar de ser um parto hospitalar, me sentia totalmente em casa. Quando ouvi o “Já estou vendo os cabelinhos dela”, arrepiei inteira. Mais umas duas forças e ouvi a ginecologista dizer pra Rafa “Acho que vou ter que dar um ‘piquezinho’ aqui”. Gente, desci na hora da partolândia – “Não precisa!!! Eu tô sentindo a cabecinha dela, eu consigo!!!” A médica se surpreendeu por, apesar da analgesia, eu conseguir sentir. Mais duas forças só e ela nasceu. Com circular de cordão bem apertada, a médica pinçou e cortou na hora. O pediatra colocou ela no meu colo, mas levou logo pra examinar, porque ela estava bem roxinha mesmo. Marido ficou indo e voltando, me mostrando as fotos pra eu ver que estava tudo bem. Logo depois, trouxeram ela de volta, coloquei no colo, tentei amamentar. A coisa mais linda do mundo: 48cm, 2.960kg de pura gostosura. Laceração mínima (4 pontinhos só, e que estão incomodando. Imagina se fosse uma episio???).

E estamos nos dando muito bem em família. O primeiro dia foi difícil porque ainda não conseguia dar o peito direito pra ela, que ficava querendo o tempo todo. Não dormiu, nem nós. Agora, está uma beleza: mama e dorme.

13 comentários:

  1. Oi Elisa! Eu tb Fiz parto normal. Comecei a sentir as contrações ritmadas a partir da meia noite do dia 03 de agosto de 2011, vinham de 12 em 12 minutos, reduzindo progressivamente ao longo do período . Às 6h, estorou a bolsa e estava com com 5 cm de dilatação.
    Minha G.O. me orientou que fizesse o máximo de força na próxima contração que viesse. E foi o que fiz, a dilatação passou de 5 para 8 cm, então com muita dor, pedi a anestesia.
    Assim como vc, o anestesista preparou uma analgesia em que podia sentir as dores da contração, pudesse fazer força e concluir o parto. Achei maravilhoso.
    Mas como o Mateus prendeu o bracinho, ele não conseguia descer, estava numa posição ruim, então precisamos de um segundo obstetra para fazer a manobra.
    Às 8h26min do dia 04 de agosto de 2011, meu lindão nasceu, com 51 cm e 3,5 kg. Indescritível a sensação de tê-lo em meus braços. A sensação de ter realizado meu sonho de fazer parto natural tb fez muito bem!
    Amei e recomendo o parto normal, com certeza terei meu segundo filho assim, se tudo correr bem.

    Cláudia Eirado

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  2. Li, uma correção: vc engravidou em março do ano passado e nao deste ano... Kkkkkkk.
    Adorei sua história! Amo ler os detalhes de cada momento. Já vou me preparando para o futuro nao tão distante.. Hehe.

    Eu vou querer o telefone da sua Doula. 1 pergunta: vc gostou da gineco? Estou a procura de uma que aceite o parto normal e que me trate muito bem, porque será muita informação de uma vez só

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  3. Morro de medo desse "piquezinho"!!
    Nao quero de jeito nenhum!!!!! Rsrs

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  4. Cláudia,

    quem foi a equipe que te acompanhou? Foi aqui em Brasília? Nem no SUS eu vi fazerem manobra quando o bebê fica preso, geralmente é direto pra faca, achei lindo o nascimento do seu Mateus!

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  5. Paula,

    se quiser ir à doutora Lu, eu a acho maravilhosa. Acho que vocês vão se dar bem, ela é bem direta e firme nas colocações dela.

    Ah, e eu falei em março desse ano porque esse relato foi escrito na semana em que Alice nasceu! =]

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  6. oi querida, belo relato!!! Tira uma dúvida: esse chá de folha de framboesa, serve pra quê? bjks

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  7. Ele é tomado no final da gestação e é conhecido por abreviar a duração do trabalho de parto, ou seja, nas mulheres que o tomam,as contrações são mais efetivas, fazendo com que a duração do processo do início até a dilatação completa seja menor.

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  8. Não me lembro se li ou não seu relato de parto, mas me lembro da sua agonia ao ver todos os babys da comu nascendo e a Alice quietinha na dela, vc chorosaaaaaaaaaaa, mas no final deu tudo certo, foi lindo o momento de vcs duas.
    Sabe que até hoje eu não fiz o meu e nem sei se quero fazer pois foi um filme de terror, quase morri e Luiggi tb...
    Uma amiga psicologa especialista em psicodrama para mães que tiveram depressão pós parto me disse que é pra eu escrever tudo que me lembro mesmo que seja só pra mim...
    como será o seu próximo????

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  9. Oi Elisa! Lindo o seu relato! Tive muitas decepções ao passar por uma cesárea e processo anestésico dificílimo e nesta minha nova gestação, EU PRECISO DE UM PARTO VAGINAL!!!! Ainda estou à procura de uma equipe para me atender, que o faça de preferência pelo meu plano, que é Amil 140. Consegue pra mim os contatos da sua gineco e doula, please. E vai dando as dicas aí que ajudam a gente a ter um parto normal, que isso vai me ajudar bastante. Outra coisa, queria saber melhor sobre o tal chá, quando começar a tomá-lo e a que horas do dia. Conte-me tudo e não me esconda nada!!! hehehehe! Beijim! Rafaela Dias.

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  10. Fabíola, em qualquer trauma é impórtante o enfrentamento e a compreensão de por que as coisas aconteceram da forma como foram. Principalmente um momento como o nascimento de um filho não pode ser simplesmente "deixado pra lá", escondido debaixo do sofá das emoções. Escrever é uma forma de reviver tudo e se permitir sofrer pelo que não deu certo. Você devia MESMO fazer.

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  11. Rafa,
    minha médica é a doutora Lu, o telefone do consultório é 32457576, mas não sei se ela atende por plano de saúde. A doula é a Rafaela (ops, coinciência!), o telefone é 3442 8141 / 9959-8662 e o email dela é rafafrosa@yahoo.com.br. O mais urgente é um encontro com a doula, pois ela conhece a maior parte dos médicos que realmente optam pelo parto normal, principalmente em caso de parto normal após cesárea, muitos médicos tem medinho de fazer, embora os riscos sejam iguais aos de um primeiro parto normal.

    Outra coisa, você ainda tem orkut? Se tiver, sugiro que entre em uma comunidade chamada Gravidez, Parto e Maternidade. Lá existem vários relatos do que elas chamam de VBAC, parto normal após cesárea, e várias dicas que podem te ajudar.

    Boto a maior fé do mundo em você e no seu parto normal, Rafa! Vamos conversando e faço questão de te ajudar em tudo que puder!

    Logo, logo posto mais sobre o chá, ok?!

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  12. ok Elisa! Muito obrigada!!! Não tenho mais orkut, mas vou abrir de novo a minha conta só para poder entrar nessa comunidade!! Muito obrigada mesmo! Beijim!!!

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