quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Relatos de Parto

Setembro foi um mês muito intenso na minha vida de doula. Pariram sob meu olhar carinhoso e com todas as vibrações positivas do meu ser a Poliana (que ganhou o Ulisses na Maternidade Brasília), a Hileana (que ganhou o Henrique no Santa Luzia) e a Aline, que ganhou o Arthur no HUB. Ganharam seus bebês longe do meu olhar por questões burocráticas que impediram minha entrada, mas foram acompanhadas por mim durante a gestação e pré-parto a Pamela (que ganhou a Mariana no HMIB), a Ana Paula (que ganhou a Estela no HMIB) e a Vanessa (que ganhou a Letícia no Santa Luzia).
Após essa temporada de contemplar muitas vezes a beleza e força da mulher ao ter seus filhos, e de contemplar todas essas novas vidas que chegaram a esse planeta para serem cuidados por essas mãos tão carinhosas de sua mãe, entrarei em um mês mais tranquilo, já que ainda não tenho nenhuma mulher com DPP em outubro. Senti a necessidade de refletir um pouco e compartilhar com vocês o que observei nesses momentos.
1. Como faz diferença a preparação DO CASAL durante a gravidez! A mulher precisa de informações sendo repetidas constantemente de forma que fiquem internalizadas, pois na hora do trabalho de parto e parto ela não tem realmente a menor capacidade de ficar racionalizando as coisas. As informações precisam estar bem claras e amarradas de modo que ela consiga se manter calma, mas a mulher discutir com equipe médica na hora do TP é bem complicado. O companheiro, por sua vez, está sem dor e mais calmo, e é a pessoa ideal para zelar pelos desejos de sua companheira nesse momento. As mulheres que não terão o acompanhamento do pai do bebê têm também que procurar alguém que as acompanhe desde a gravidez e que vai estar junto durante o parto.
2. Como os fatores externos influenciam o início, a duração e a qualidade do trabalho de parto e parto! Impressionante como uma luz baixa, uma música, respeito, silêncio e toque são como mágica para que a dor se torne mais suportável e para que a dilatação progrida! E puxa... como nosso sistema hospitalar não está preparado para isso, viu?! Muito triste mesmo como as pessoas não respeitam o momento da contração, como falam coisas desnecessárias, como falta sensibilidade com aquela mulher que está ali tão fragilizada e vivendo o momento mais importante da vida dela!
3. Como os hospitais particulares têm a aprender com o SUS! Claro que não são todos os hospitais que são bons, claro que ainda - infelizmente - temos relatos de violência obstétrica (principalmente no HRC, o hospital da Ceilândia, fujam de lá a todo custo!), mas tive experiências muito boas no HMIB, na Casa de Parto de São Sebastião e no HUB. Desde a presença de objetos como bola e banqueta de parto até o atendimento carinhosos e respeitoso. Só fico triste por ver como a lei do parto humanizado não é respeitada, e só permitem a entrada do acompanhante OU da doula. Minha gente, como é que uma doula vai impedir o pai de ver nascer sua cria? E como é que o pai vai fazer o trabalho da doula sem ter nenhum preparo para isso? Mas também a estrutura da maioria dos hospitais não permite que cada mulher leve consigo acompanhante e doula, o espaço físico mesmo não permite. Para mudar a maneira de nascer nesse país, precisamos de mais investimento.
4. Como os médicos são desesperados e desatualizados! Parece que a mulher é uma bomba relógio prestes a explodir... Se qualquer coisa sai minimamente do protocolo, eles já querem correr para uma cesariana. Se a pressão sobe um pouquinho, se há diabetes gestacional... Mesmo que a mulher entre em trabalho de parto, é uma falta de paciência com o expulsivo, uma "torcida organizada" mandando a mulher fazer força, força comprida, força sem soltar o ar, que é claro que faz o bebê nascer lacerando tudo... Como, principalmente nos hospitais particulares, a 'hora de ouro' não é respeitada e o recém-nascido é, mesmo sem nenhum motivo, afastado de sua mãe para mil procedimentos antes que os dois tenham a oportunidade de se conhecer, criar vínculo, Desabiê Descubra-se
urtir...
5. Como eu amo o que eu faço! Amo de toda a minha alma! Amo ir contra a maré ensinando às mulheres que elas têm, sim o PODER DE PARIR, que está escrito em suas células, em sua alma e em seu espírito... Como é bom poder informar às mulheres que há, sim, outra maneira, mais doce, mais respeitosa, de trazerem suas crianças ao mundo! Como é bom ajudá-las, passo a passo, a construírem esse parto do qual elas se lembrarão com carinho e com saudade, sem trauma, querendo viver novamente a mesma experiência caso haja uma outra gestação. Como é maravilhoso ver a mulher se tornar a mãe, como é indescritível ver uma nova vida chegando ao mundo, como é mágico e apaixonante o olhar entre uma mãe e seu recém-chegado filho!
Gratidão às mulheres que pude acompanhar até aqui. Ser parte desse momento tão íntimo e tão especial não é para qualquer um, não, sei bem disso!
(Elisa Costa)

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