quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Hormônios do parto


O trabalho de parto envolve, como o próprio nome diz, muito trabalho. Todo o corpo se foca em trazer à luz aquele pequeno ser. Mas você sabe qual é a parte do nosso corpo que mais trabalha na hora de parir? Nosso CÉREBRO! Faz sentido, né?! Afinal, é ele quem vai comandar as contrações, acionar e liberar os hormônios necessários, enfim, quem vai ditar todo o processo. Hoje vamos falar um pouquinho sobre esses hormônios, especialmente sobre a ocitocina.
Essa foto é do trabalho de parto do meu segundo filho. Eu gosto demais dela! Porque olhando assim, sem saber o contexto, fica bem difícil definir se essa cara é de prazer ou de dor. E é isso que acontece no parto, dor e prazer misturam-se constantemente!
O primeiro e mais famoso hormônio envolvido no parto é a nossa querida OCITOCINA. Se fosse possível elaborar uma droga do amor, ela com certeza seria o principal ingrediente. É ela a responsável por potencializar as contrações do útero, tornando-as fortes, efetivas e ritmadas até que o bebê nasça. Esse hormônio mágico também é responsável pela expulsão da placenta após o nascimento da criança, pela contração de células no seio para tornar possível a saída do leite . Quando há processos de indução ou tentativas de acelerar o trabalho de parto, é ministrada à mulher a ocitocina sintética. É claro que ela não vai atuar da mesma forma que a ocitocina naturalmente produzida! Vamos às principais diferenças:
a. O organismo diminui o número de receptores diante da ocitocina sintética, para prevenir um excesso de estimulação, o que aumenta os riscos de hemorragia, já que sua própria ocitocina será reduzida.
b. A ocitocina natural penetra na placenta e “desliga” um pouco o cérebro do bebê para reduzir a necessidade de oxigênio, o que a ocitocina sintética não é capaz de fazer e por isso seu uso tem maior chance de causar sofrimento fetal.
c. As contrações são até três vezes mais fortes do que as geradas pela ocitocina natural, sendo também mais longas e com intervalo mais curto entre elas. Isso pode fazer com que a mãe libere adrenalina, travando a progressão do trabalho de parto.
Depois do nascimento, os níveis de ocitocina ficam ainda maiores! Isso ajuda a proteger a mãe, porque faz com que o útero se contraia, evitando hemorragia. Mas esses altíssimos níveis de ocitocina logo após o parto têm uma função emocional muito importante: estabelecer o vínculo entre a mãe e o bebê. É ela quem gera aquele amor que te faz chorar só de olhar para o serzinho que saiu de dentro de você. E assim o que era potencialmente um evento traumático devido à sua intensidade – o parto – é ressignificado em uma experiência de amor, envolvimento, superação, felicidade..
No final de cada contração, o organismo libera endorfinas, que geram o relaxamento. Se a ocitocina é o hormônio do amor, a endorfina é, sem dúvida, o hormônio do prazer. É ela quem propicia uma sensação de euforia, mas também é uma espécie de anestésico natural. Nosso organismo é realmente muito sábio! Entre as contrações, que são fortes e doloridas, vem aquela sensação boa de relaxamento, semelhante àquela que experimentamos logo após uma atividade física intensa ou um orgasmo. Assim, o próprio organismo se encarrega de “compensar” a dor do parto. Então a verdade é que fala-se muito da dor do parto, mas só quem já passou pela experiência pode dizer que também há, em um parto natural, muito prazer envolvido.
Também está presente no parto um hormônio chamado prostraglandina, responsável pelo apagamento e dilatação do colo do útero. Já ouviram falar que sexo no final da gravidez estimula o trabalho de parto? Isso acontece por dois fatores: o orgasmo feminino gera contrações do útero e o sêmen contém prostraglandinas, que podem favorecer o início do trabalho de parto.
Ao longo do trabalho de parto, a grande vilã é a adrenalina. Se ela está presente em grande quantidade, atrapalha muito a liberação dos hormônios que fazem com que o trabalho de parto progrida. Porém, no final do trabalho de parto, no período que chamamos de expulsivo, há uma brusca elevação da adrenalina. As mulheres tendem a ficar em posição vertical, com uma súbita energia, sentindo a necessidade de se agarrarem a pessoas ou objetos. Essa adrenalina faz com que a mãe fique especialmente alerta após o nascimento do filho, uma questão evolutiva para a proteção do recém-nascido.
Para que esses hormônios do parto sejam liberados adequadamente, é preciso que o seu sistema límbico esteja ativo. O sistema límbico é o nosso cérebro mais primitivo, mais instintivo e, para que ele atue adequadamente é necessário que a mulher esteja relaxada, desligada de preocupações. Isso explica porque muitos trabalhos de parto se iniciam de madrugada, né?! Mas aqui reside também um grande segredo: se, no decorrer do trabalho de parto, a mulher se sente assustada, observada, preocupada, esse sistema límbico dá uma “travada” e os hormônios deixam de ser liberados adequadamente. Aí a gente entende porque muitas vezes o trabalho de parto está progredindo maravilhosamente em casa e, quando a mulher chega ao hospital, as contrações param do nada – ela saiu de um ambiente onde se sente segura e tranquila para um ambiente muito iluminado, movimentado, com ruídos e onde está constantemente sendo observada. O que uma mulher em trabalho de parto precisa para que seus hormônios sejam adequadamente liberados é, portanto, privacidade, penumbra, sensação de segurança e silêncio .
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