Uau, galera! Quanta polêmica essa resolução governamental que estimula o parto normal está gerando, hein?!
Para começar, é preciso compreender que a cesariana é uma cirurgia. Muitos já devem ter ouvido que não existe cirurgia sem risco, e essa é uma verdade que aprendi muito dolorosamente. Não existe cirurgia simples. Fazer uma cesárea implica em anestesia, sete camadas do corpo feminino cortadas, cerca de 75 pontos dados. Se essa cirurgia for feita sem que a mulher esteja em trabalho de parto, não há como saber se, de fato, os pulmões do bebê estão maduros, o que aumenta muito o risco de complicações ao nascer e de que a criança precise ficar em UTI neonatal. O risco do parto cirúrgico é bem maior para mãe e filho do que em um parto normal. É por isso que a Organização Mundial de Saúde estabelece que as cesarianas girem em torno de 10% do total dos partos, porque essa é a porcentagem de mulheres que efetivamente tem alguma complicação no parto e precisam ser operadas e fim de não morrerem, nem elas nem seus bebês.
No Brasil, as taxas de cesariana estão muito, muito acima disso. Os planos de saúde, então, giram em torno dos 90%. A maioria dos obstetras que atendem por convênio nem lembram mais como é acompanhar um parto normal, porque realmente só fazem cesáreas. Será que todas essas mães operadas por seus médicos para terem seus filhos tiveram alguma intercorrência que tornasse a cirurgia necessária? Será que, então, tiveram toda a informação sobre as duas vias de parto e escolheram, conscientemente, a cirurgia? A ANS entendeu que não. A ANS entendeu que os médicos estão manipulando suas pacientes de modo a confortavelmente encaixarem o nascimento de seus filhos para não haver choque entre agendas, para não terem que ficar à disposição, para não terem que esperar a progressão do trabalho de parto. A ANS entendeu que esse índice de 90% das cesarianas indica que mulheres estão sendo operadas desnecessariamente.
O que diz a resolução???
1) Os planos de saúde terão que fornecer à mulher o cartão da gestante, onde ficará registrado todo o pré-natal.
2) A mulher que quiser uma cesariana terá que assinar um termo de consentimento que lista todos os riscos da cirurgia. Sim, ela pode escolher agendar uma cesárea em vez de entrar em trabalho de parto, apenas ela terá que declarar que sabe todos os riscos a que está se expondo e expondo seu bebê. Não vejo nenhum absurdo nisso!
3) O médico terá preencher, no trabalho de parto, um documento chamado PARTOGRAMA. O partograma é uma representação gráfica dos eventos do trabalho de parto, onde são registrados os sinais vitais do feto, dilatação cervical, duração do trabalho de parto, etc. Esse registro vai sendo feito ao longo da permanência da mulher no hospital (ou ao longo do trabalho de parto em casa) e permite determinar se o trabalho de parto está ou não evoluindo conforme o esperado. Esse registro impossibilita que o médico decida, aos 4cm de dilatação da mulher, que ela “não vai dilatar”, a não ser que os valores no partograma mostrem que realmente a dilatação está muito fora do esperado. Impossibilita que o médico diga que a grávida tem que fazer uma cesárea “de emergência” agendada para 9h do sábado seguinte. Impossibilita que o médico marque a cesárea porque o cordão umbilical está enrolado no pescoço. Ou seja, vai ficar bem mais difícil para eles enganarem as mulheres que planejaram ter seu filho num parto normal. Nos casos muito urgentes em que o partograma não possa ser preenchido, o médico poderá apresentar um relatório médico detalhado, ou seja, ninguém vai morrer porque o médico ficou ocupado preenchendo o partograma.
Comemoro muito a entrada em vigor dessa resolução, porque no mínimo está incitando o debate e a informação, além de pressionar os médicos a permitirem que a mulher exerça realmente seu direito de escolha quanto ao parto. Contudo, os prováveis efeitos dessa resolução ainda me intrigam. Tenho medo dos primeiros partos que esse médico que sempre fez cesárea vai acompanhar. Porque é algo em que a maioria dos médicos não tem mais segurança! São tantos anos operando que eu acredito que eles ficarão assustados com a possibilidade de algo acontecer e venham com a “cascata” de intervenções (ocitocina, analgesia, episiotomia, etc.) para tentar se precaver de qualquer incidente. Mas, ao mesmo tempo, tenho fé de que o caminho da humanização do parto comece a se abrir para mais médicos, para o bem de mulheres e bebês!
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