Eu sentia que ele não ia demorar. Iara, minha parteira, sentia o mesmo. Heitor crescia dentro de mim, e eu estava só esperando a hora de ele chegar. Curtia cada dia de barriga como se fosse o último e corria com os preparativos para o meu parto domiciliar.
Foi longo o caminho que me trouxe Heitor. Alice, minha primeira filha, foi parida no hospital, com todo o acompanhamento e parafernalha médicos, embora eu sonhasse em tê-la em casa – faltou coragem. Com Heitor, já sobrava confiança, e a equipe me foi “revelada” quando recebi um convite para uma palestra com Iara, Ana Cyntia e Paloma, parteiras. Não sabia como convenceria o marido e os meus pais (que moram praticamente junto comigo), mas já sabia mais do que bem o que queria.
Graças a Deus, tudo se encaminhou em paz e harmonia. Meu marido foi meu super parceiro, como sempre. Meus pais aceitaram sem maiores resistências, após uma conversa com as parteiras e com meu tio, o que muito me surpreendeu. Só a ação divina poderia explicar a simplicidade, a facilidade como tudo se desenrolou. Logo após a conversa, Iara me chamou num cantinho e disse para eu apressar os preparativos para o parto, pois ela sentia que Heitor não ia demorar.
Para evitar que as pessoas tentassem me convencer do contrário e eu tivesse que ficar argumentando e reargumentando, explicando como o parto domiciliar é seguro, só compartilhei a decisão com as pessoas que estariam presentes no dia. Para a maioria da família e dos amigos, a chegada de Heitor em casa foi um grande susto.
Às 2h40 da madrugada do dia 24 de julho, tive uma ruptura parcial da bolsa, e acordei com o molhado na cama. A partir daí, comecei a ter uma cólica leve. Lá pelas 4h, as contrações começaram, e chamei Iara. Ela chegou às 5h, ouviu o coraçãozinho do Heitor, fez um exame de toque, eu já estava com 4 cm de dilatação, com contrações ainda bem leves e plenamente suportáveis. Ao amanhecer, chegaram a Ana Cyntia (minha segunda parteira), minha irmã e meu tio (que é enfermeiro e um grande parceiro). Tomamos um café da manhã muito animado, todos rindo muito e super felizes com a iminente chegada do mais novo membro da família.
Depois do café, sentimos que a agitação da casa estava demais. Iara e Ana Cyntia sugeriram uma caminhada só com as parteiras pelos arredores de casa. Um sol delicioso, um dia lindo, e as contrações a partir daí ficaram mais doloridas. Iara fez uma nova avaliação: 6 cm. Fiquei bem chateada: achei que as coisas estavam mais adiantadas, pois as contrações estavam bem mais doloridas do que durante a madrugada.
Devia ser por volta das 10h30, e a noite não dormida estava me vencendo. Ana Cyntia me disse para tentar dormir. Duvidei que conseguisse, mas as contrações deram, então, uma espaçada de uns 15 minutos, durante os quais eu até ronquei. Mais umas três contrações fortes e resolvi tentar deitar e dormir, mais uns 15 minutos de sossego até que uma contração fortíssima me sacudiu e me levantou de vez. Sentei ao sol com as parteiras e fiquei conversando, eram umas 11h.
As contrações estavam ainda irregulares, mas realmente intensas.
Decidi, então, entrar na piscina montada na minha sala. Imaginei que a água quente fosse aliviar aquela sensação dolorosa e me tranquilizar um pouco. Fiquei sentada e, a cada contração, apoiava as mãos no fundo e levantava os quadris. Quando fazia algum barulho, sentia mais dor, então as fortes contrações transformaram-se num silencioso mergulho dentro de mim. A cada onda, meus olhos se fechavam e eu pensava em Heitor, permitindo-me dilatar, abrir, permitindo a chegada de meu príncipe sem lhe opor resistência.
Alice, minha pequena de 1 ano e 8 meses, entrou comigo na piscina. Achei que ela fosse se assustar, vendo a mãe sentir dor, mas que nada! Brincou com a água, curtiu muito o momento piscina dela.
Durante esse tempo de mergulhos silenciosos e, nos intervalos, paparicos de filhota, as pessoas foram voltando para perto de mim, mas num respeitoso silêncio. De alguma forma, todos sabiam que o momento estava próximo.
Iara me pediu, então, que introduzisse um dedo na vagina e tentasse sentir a cabecinha dele. Me emocionei ao ver que estava assustadoramente perto, e me liberei ainda mais para curtir aquela dor, que trazia meu filho cada vez para mais perto de mim.
Nesse momento, outra mágica aconteceu: senti Heitor virar-se inteiro dentro de mim. Sabia que ele estava encontrando seu caminho, que faltava muito pouco!
Tiraram, então, Alice da piscina, pois ela volta e meia esbarrava na minha barriga, o que doía muito. O escândalo que ela fez foi de cortar o coração. Quase parei tudo para ir buscá-la, mas sabia que ela estava em boas mãos, e que logo estaria vendo o irmãozinho nascer.
Comecei a sentir a pressão da cabecinha dele chegando. Iara me pediu para mudar de posição, para que houvesse espaço para a saída dele. Com muita dificuldade, consegui ficar de joelhos, não era, em teoria, uma boa posição, mas eu já não conseguia mudar. Senti uma forte ardência e uma contração bem forte, e a cabecinha de Heitor saiu de dentro de mim. Mais do que depressa, meu marido lindo entrou na água. Ele se posicionou à minha frente, e Iara colocou a mão de forma a impedir que, na saída, Heitor fosse para trás em vez de para os braços do pai.
Mais uma contração (ou duas) e meu pequeno príncipe nasceu, às 12h06min, acompanhado do grito emocionado da minha mãe, das lágrimas abundantes da minha irmã e do olhar curioso da maninha Alice. Meu marido pegou Heitor da água, e entregou aquele pequeno tesouro nas minhas mãos. Eu olhava para ele sem acreditar que havia acabado, que meu neném já estava nos meus braços, e só conseguia repetir: “Bem-vindo, meu filho, bem-vindo!”.
Da piscina, saímos para a minha cama, onde esperamos a saída da placenta e o papai (do Heitor, não o meu, hehehe) cortou o cordão umbilical. As parteiras fizeram um rápido exame, em seguida Heitor mamou. Não tive nenhuma laceração, nenhuma complicação, nenhum problema. Curti meus filhos, juntos, logo após o parto, e tive os dois junto a mim durante todo o tempo posterior. Comi da comida da minha casa e tomei banho no meu chuveiro. Dormi na minha cama, com meu filhote do meu lado. Essas coisas não têm preço!!!!
E estamos vivendo uma linda lua-de-leite, nos amando, todos, mais a cada minuto!
"Eis que os filhos são herança do SENHOR, e o fruto do ventre o seu galardão". (Salmos 127:3)
Me emocionei!!Que forte, que emoção, que aleria eu senti or vc!!Sejam cada dia mais felizes!! Beijo grande!
ResponderExcluirMeriele
QUE LINDOOOOOOOOOOOOOOOOOOO! AMEI TUDO... PARABÉNS! FAMÍLIA LINDA!
ResponderExcluirLindo demais, Elisa. Que Deus abençoe sua linda família!
ResponderExcluirAdoro ler seus textos. A gente mergulha na história. Mas confesso que nao tenho coragem... Kkkkkk
ResponderExcluirQue depoimento lindo! Parabéns pela força e coragem!
ResponderExcluirElisa, parabéns! Lindo relato!
ResponderExcluirP.S.: Este Salmo que você cita no final também está no meu relato de parto.
Lindo amiga... Emocionante!
ResponderExcluirMuitos parabéns guerreira de luz, boa caminhada para essa família linda, de outra parida em casa!
ResponderExcluirAlicia e Samuel
guerreira! fiquei pensando "como que no trabalho de parto deu p/ brincar com a filha? ".... mas tbm tendo agora meu filhote em maos,
ResponderExcluirimaginei que a energia do nosso filho nos atrai e que mesmo tendo contracoes, dê p/ dar atencao ao filho mais velho.
sempre me emociono ao ler os relatos de parto. viva heitor! bem-vindo! bjo Mariana mae do Benjamin (51 dias), parto domiciliar planejado com Iara e Ana Cyntia, uma dupla sensacional!