quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Relato de Parto Normal com Cesariana Prévia

Desejo de coração que minha experiência sirva de incentivo para outras mulheres lutarem por seu direito de parir naturalmente. O parto pra mim foi uma experiência incrível, um marco na minha vida como mulher.

Eu sinto que a gravidez do Carlos Eduardo começou quando nasceu minha primeira filha. Na ida pro centro cirúrgico eu já pensei que da próxima vez eu conseguiria ir até o final. Pra quem não sabe o resumo da minha cesária foi, bolsa rota, indução, 10hrs de TP punk, dessas horas 3 foram estacionadas em 8cm. Segundo o médico rolou distócia de rotação, minha filha entrou em sofrimento e eu fui pra faca.

(Hoje sei que se tivesse ficado em casa esperando entrar em TP, não teria ido pra ocitocina de cara, não teria passado por tantas intervenções e teria muito mais chances de nãot er sofrido uma cesária)

Assim que pude comecei a ler tudo que podia sobre partos normais após cesariana, já tinha lido antes, mas superficialmente porque achei que nunca ia precisar saber mais sobre o assunto. Minha segunda gravidez foi planejada como a primeira e acredito que foi planejada na minha mente parte por parte pra que nada saísse errado. Eu sou daquelas que acha q se pensar e planejar tudo tim tim por tim tim a coisa sai como eu quero, nem sempre, mas na maioria das vezes acontece.

Parei o anticoncepcional em dezembro e mestruei pela última vez início de fevereiro. Tive uma gravidez tranquila como a primeira, pressão sempre boa, enjoei um bocado no início, cuidei pra não engordar, ao todo foram 7 ou 8 quilos. Passou tão rápido que as vezes acho que nem curti tudo direito. Quando fiz a morfológica com 22 semanas, vi um bebê perfeito e lindamente sentado como um Buda! Senti um frio na espinha e pensei: Putz! Só o que me falta ele ficar sentado até o fim. Mas desencanei, afinal era muito cedo.

Com 31 semanas fiz uma nova ultra e lá estava meu bebê sentado, aí nao rolou frio na espinha, foi um medo pavoroso mesmo. Já comecei a ler tudo que podia sobre bbs pélvicos e o que podia fazer pro menino virar. Desabafei com amigas queridas e todas me disseram que tinha muito tempo ainda pra ele virar, mas eu sou teimosa e a sensação de que eu tinha q fazer alguma coisa ecoava na minha cabeça.
A GO q acompanhou o pré natal disse q ainda tinha tempo, mas ressaltou q se tivesse q ser cesariana não era nenhum bicho de sete cabeças, juro q pensei em argumentar, falar q a cesaria pra mim foi traumática, mas sabia q ia gastar meu latim e calei.

Comecei a fazer exercícios pro bebê virar, atirava pra todos os lados e com 33 semanas fiz uma ultra achando q ele tinha virado. Que nada! Tava sentadão. E ainda ouvi do ultrassonografista q ele não virava mais pq tava muito grande. Quase bati no cara. Saí frustrada, com medo, angustiada. Novamente tive amigas queridas q me apararam (não cito nomes pq certamente serei injusta deixando de citar alguém), chorei pra minha doula, mas não desisti, sabia q tinha tempo. Por via das dúvidas combinei com um médico humanizado uma VEC (Versão externa cefálica). Continuei os exercícios e fazia muita massagem na barriga. Muitas vezes achei q estava amassando o bebê de tanto que eu alisava a barriga a fim de induzir a rotação dele. Senti um giro e no segundo dia senti q ele mexia diferente, mas não acreditei q tivesse virado, eu já tinha me enganado antes. Continuei os exercícios e tudo mais e no outro dia voltei a sentir a cabeça dele embaixo do meu estÔmago. Passei o dia pensando q eu o tinha feito sentar novamente.

Cheguei em casa, tomei banho, entupi a barriga de creme e fiquei fazer circulos na direção horária até me cansar, deixei o quadril bem alto e senti uma pressão próximo ao osso do quadril. Pensei na hora: Ele virou. Aí jurei q não fazia mais nada e fosse o que tivesse que ser. Eu estava com 34 semanas e 4 dias.

Na mesma semana fui na GO e não comentei nada sobre minha ansiedade dele virar e qdo ela me examinou e disse q a cabecinha dele tava lá embaixo eu quase tive um treco. Ali tive certeza de que ia dar certo. Só não sabia q eu teria que passar por algumas coisas antes disso.

Com 37 semanas fiz uma ultra a pedido da GO e o resultado foi: Bebê ótimo, mas com perímetro cefálico um pouco acima do normal, indicava como 34,6 cm e o normal era até 33,9 e duas circulares de cordão. É lógico que eu sabia que circular de cordão não indicava nada, mas o tamanho da cabeça me abalou. Mesmo ouvindo q tava tudo bem eu surtei um pouco achando q o bb teria algum problema e pior, q eu tinha causado de tanto empurrar o guri na barriga!hehehe

Fui pra casa um trapo. Depois fui levar o laudo na GO e ouvi tudo que não queria ouvir de uma vez só. Olhando meu ultrassom ela disse que não aconselhava o PN, mas q tb não era preciso marcar cesária, eu podia esperar o TP pq até tinha uma chance de dar certo, mas que tinhamos q ficar de olho. Que eu era muito "zen", mas neste caso tinha q ter mais cuidado porque haviam fatores que complicavam. Os fatores era absurdos, mas vou listar:

-Trabalho de parto longo q resultou numa cesáriana mesmo eu dilatando bem. (Detalhe, eu só fui até 8 de dilatação e a causa da cesária não foi Desproporção Céfalo-Pélvica).

-Cesária recente. (1 ano e 10 meses)

- Bebê grande e cabeçudo. (Estimativa de peso com 40 semanas era entre 3,5kg e 4kg)

- As benditas circulares de cordão. (Segundo ela se não fossem preocupantes a ultrassonografista nem colocaria no laudo)

Ela falou trocentas vezes que podia tentar o PN, mas q não devia ficar muitas horas em trabalho de parto e que se ficassem insistindo muito no PN eu devia ligar pra ela e ela pediria a cesariana. Por fim, ela foi me examinar e como gran finale disse que minha pélvis era estreita. Isso tudo com olhar de terror, como se algo estivesse muito errado e ela não quisesse me assustar!

Saí do consultório com um ódio mortal dela. Eu não conseguia acreditar que tinha ouvido tanta coisa contrariando evidências científicas como ouvi em uma única consulta. Desabafei com amigas e selecionei informações pra passar pra família. O resumo da consulta foi: Tá tudo bem, é só esperar nascer!

Depois de chorar um monte e passar meu aniversário cheia de medos, enfiei na minha cabeça que eu era perfeita, que era super saudável e que meu bebê estava ótimo e que isso garantia boa parte do processo e que o início da minha vitória era acreditar nela.

Não fui na consulta de pré-natal com 38 semanas e na de 39 também. Organizei na minha mente que caso sentisse algo estranho, ou o bebê diminuísse os movimentos eu iria no posto de saúde, mas que na GO eu só ia em última instância.

Eu sabia q ele nasceria antes das 40 semanas.

Dia 3 de manhã acordei sentindo umas contrações doloridinhas. Bem irregulares, mas diferentes da contrações de BH, lembro q ainda na cama pensei: Tá chegando a hora!

Tinha muitas coisas pra fazer naquele dia e fiz todas.

Eu tive contrações irregulares durante a segunda o dia todo. As 1:59 da manhã a bolsa estourou, mas acredito que o rompimento foi alto e o Caê tampava a saída, pq a água foi saindo aos poucos.

Avisei a Re, meus tios que queriam rezar por mim e fui terminar de arrumar as bolsas pq eu não tinha terminado. Botei roupa na secadora, passei umas roupas do bebê, depois resolvi deitar um pouco, mas aí meu marido já tinha acordado e eu tava elétrica.

As 4 e pouco liguei pra Re com contrações de 5 em 5 e liguei pra Gabi (a doula). Voltei pra bola, fiz chapinha no cabelo pq na minha mente bizarra eu não iria mais molhar o cabelo e tb não pretendia lavá-lo na maternidade. A Re e a Gabi chegaram pouco depois das 5, conversamos um pouco e como minha sala tava meio tumultuada e minha filha acordada, sugeri que fossemos pro meu quarto, curti algumas contrações de joelhos no chão, Senti uma queimaçãozinha na região da cicatriz da cesária, comentei coma Gabi e ela disse que provavelmente era a cabeça do bebÊ fazendo o
giro. Lembro de cuidar muito com a posição da minha coluna, tinha lido que quanto mais curvada para tras, mais demorava pro bebê descer, então eu tentava manter a coluna reta. As dores foram aumetando, então pedi pra ir pra banheira. Minhas contrações vinham de 3 em 3 minutos e nos intervalos dava pra conversar numa boa.

A Gabi me falou que eu podia ficar tranquila, que se o bebê nascesse ali ela dava conta, nessa hora confesso que deu uma vontadezinha de ganhar em casa, mas aí lembrei do meu marido e em como o surto seria enorme se isso acontecesse. As contrações iam ficando cada vez mais fortes e eu viajava em cada uma delas, em uma lembro q me dobrei tanto na banheira que quase fiquei com a cara dentro da água (foi-se a chapinha!hehehe). Não lembro bem quanto tempo fiquei dentro da água, mas lembro que comecei a sentir vontade de empurrar, nessa hora pensei em ir pro hospital e avisei as meninas, a Re imediatamente falou que era bom eu ter certeza de que era vontade mesmo de empurrar e pediu pra esperar mais algumas contrações, esperei mais um tempo até que achei que a dor tava aumentando e a vontade de empurrar também.

Saí da banheira, me vesti e desci. Lembro que vi minha avó com cara assustada e meu marido (super tranquilo) com a minha filha. Eu estava tão fora de mim que tinha esquecido de avisar a Gabi que ela me levaria ao hospital, na hora de sair de casa era eu olhando perdida pro marido, ele me olhando estranho, minha avó assustada e minha filha gritando por mim, pra arrematar tive uma contração, acocorei e minha filha desatou a gritar. Fui pro carro aos prantos por deixar minha pequena chorando sem entender nada. Ela estava acordada desde madrugada, estava agitada, certamente sentindo as emoções do momento.

7:00
Ter contrações no carro era bem chato, porque eu não tinha posição pra aliviar as dores, o que dava pra fazer era rebolar. Mal saí de casa reclamei de fome e a Gabi tinha castanhas na bolsa, comi duas e desisti. Abri os olhos poucas vezes, só pra me situar em que ponto do trajeto eu estava. Quando chegamos na cabeceira da ponte que liga ilha ao continente assustei pq tinha muito tráfego. Ficava repetindo que tudo ia dar certo, que ele nasceria bem e de parto normal.

7:30am
Entrei no hospital andando e bem em frente a recepção tive uma contração, me apoiei na parede e só lembro de um homem correndo com uma cadeira de rodas, depois quando abri os olhos novamente já estava em uma pequena sala de triagem. O enfermeiro ajudou a tirar minha roupa e a me deitar na cama pra ser examinada. Eu só pensava que tinha que estar dilatada, meu medo era estar com dores fortes e pouca dilatação. A médica antes de examinar fez algumas perguntas e assim que perguntou como foi o primeiro parto e eu disse que tinha sido cesária eu falei: Mas eu quero parto normal!!
Ela respondeu que iam tentar. Foi a única hora que fiquei brava, afinal, quem "iam" tentar? Eu que ia parir, eu que tinha que dilatar. Pois bem, abri as pernas angustiada, queria saber se tava dilatada ou nao e eis que ouço: Olha o cabelinho!

Eu só não pulei de alegria porque minhas condições físicas impediam, afinal, se dava pra ver cabelinho era sinal de que tava bem dilatada. A médica enfim falou que eu estava com 7cm de dilatação.
Continuei deitada na cama enquanto me faziam perguntas e a Gabi fazia minha internação. Essa hora foi confusa porque eu não tava afim de responder nada, a Re respondia por mim e era podada por quem perguntava. A triagem acabou e me transferiram pra sala de pré-parto. Cheguei lá e um enfermeira obstétrica muito gentil se apresentou e fez um toque.

Acho que já estava com 8cm. A partir desse momento não lembro de mais nada com riqueza de detalhes, fiquei a maior parte do tempo de olhos fechados e quase dormia nos intervalos das contrações. Veio uma moça preencher mais um papel e fazia as mesmas perguntas que eu já tinha respondido, aí minha boa educação já tava longe e eu respondia quase aos berros e dizia que já tinha respondido tudo aquilo. Lembro que pouco depois me examinaram novamente e já estava com quase 9cm, aí me mandaram sentar na bola embaixo do chuveiro. Fiquei lá um tempo e ajudou muito a aliviar as contrações. As vezes eu ouvia a voz da Re do outro lado do box me dizendo pra respirar.

Essa coisa de respirar é muito estranha, porque li bastante sobre como respirar de forma a ajudar a aliviar as dores, mas na hora da dor, respirar direito exigia uma concentração fenomenal e por vezes parecia que não dava pra respirar, só empurrar. Lembro que embaixo do chuveiro eu só queria empurrar, e mesmo que eu tentasse não fazer o corpo não respondia. Aí comecei a falar bem alto que queria empurrar. Outra coisa que me surpreendi comigo mesma é que eu não poupei garganta, na hora da dor eu gemia alto, é como se eu jogasse a dor pra fora.

Me tiraram do chuveiro e voltei pra cama, a médica apareceu, fez toque, 10 cm! Me preparei a gravidez inteira pra ouvir isso. Bem, a médica me falou que eu podia empurrar quando quisesse, que eu que comandava o processo. Fiquei ainda mais confiante e a cada contração eu empurrava com gosto, afinal, a dor não era mortal, mas queria que acabasse logo. Não sei quanto tempo fiquei empurrando, a médica repetia que eu estava indo muito bem, que estava tudo indo rápido e quem dera se todas chegassem no hospital como eu. Por fim ela disse que tava na hora de ir pra
sala de parto. Me ajudaram a sair da cama e me encaminharam pra sala...errada! Acabei tendo uma contração no corredor. Deve ter sido uma cena ilária, eu gemendo alto de dor, meio acocorada, empurrando e a enfermeira com a mão no meio das minhas pernas me falando pra não empurrar. A contração passou e eu entrei na sala certa, sentei na sonhada cadeira para parto de cócoras e comecei a fazer força. Não sei quantas vezes empurrei até que resolvi perguntar se faltava muito, a médica respondeu que mais três contrações nascia. Pensei que três era um número muito grande e na próxima contração fiz toda a força que podia e que não podia, senti o círculo de fogo e a cabeça saindo.

9:36am

A médica pediu que eu parasse de empurrar, aí ouvi ela dizendo: uma circular, duas circulares. Outra contração chegou e o corpo saiu. Vi meu pequeno chorando forte e em seguida foi colocado em meu peito. Lindo, perfeito e preguiçoso, não quis mamar, mas ficou um tempo quietinho sobre mim e eu ali ainda sem acreditar que tinha dado certo. Me veio tanta coisa na cabeça, me senti meio fora do corpo, como se estivesse vendo acontecer sem ser comigo. A Re feliz do meu lado. Levaram o bebê pra examinar e a Re foi junto, a placenta saiu e eu curiosa fiquei observando. Cordão enorme. PEguntei como tava a placenta e disseram que tava ótima e a enfermeira ainda perguntou se eu queria fazer alguma coisa com ela e como eu nem tinha pensado em nada, falei que não.

A médica então me avisou que tive uma laceração de segundo grau e que ela ia suturar. Fiquei lá deitada, pensando em tudo, exausta, com fome, mas feliz.
A sutura pareceu durar uma eternidade, até fiquei perguntando quantos mil pontos eu tinha levado, mas por ser ponto contínuo demorou mais tempo.
Quando terminou e foram me passar pra maca, levantei o corpo e caí deitada novamente. Desmaiei por uns segundos.

Quando percebi tinha enfermeira em cima medindo pressão, me chamando, perguntando como eu estava. Pressão 7 por 9.

Fiquei um tempinho ainda deitada, me passaram pra maca e me deram oxigênio e soro. A Re chegou com o Caê e fomos esperar liberarem o quarto.

Aí começou uma nova etapa, a do pós parto. Era enfermeira em cima perguntando se eu estava melhor, falando como o Caê era bonito e grande, como tudo tinha sido rápido. Fiquei revivendo tudo com a Re, comentando tudo. Amamentando meu filho e feliz da vida porque conquistei algo que desejei tanto, com tanta força.
Fiquei pouco mais de 24 hras no hospital, mas não esqueço de uma reunião que teve com a enfermeira chefe e outras mães que tinham acabado de parir. Cada uma contou um pouco da sua experiência, do que esperava do parto e depois de eu ter falado ouvi a enfermeira dizer a todos como eu tinha seguido um bom caminho, que tinha me preparado pro momento e que tinha sido protagonista do meu parto.

Meu relato não ficou dos melhores, porque muita coisa eu não lembro direito, eu deixei minha mente desligar de tudo na hora, mas espero que sintam um pouquinho da minha alegria.

Agradeço a Deus, a minha família que sempre torceu por este VBAC (parto vaginal após cesariana), à minha amiga querida Regina, que lutou comigo, me incentivando, me dando livros, a Ana Mafalda por ser meu porto seguro, por me dar puxões de orelha quando precisei e a todas as minhas amigas radicais que me ajudaram, apoiaram, contaram suas experiências e confiaram em mim.

Não sei se terei um terceiro filho, mas se tiver, quero passar por tudo isso novamente.

Um comentário:

  1. AMEIIIIIIII ESSE RELATO!!! Tb passei por uma cesariana indesejada, onde tive problemas com a anestesia e acabei tendo que tomar anestesia geral, que passou para o meu bebê, e por causa disso ele nasceu com problemas respiratórios... enfim, foi muito traumático. Agora estou na minha 2a gestação, com 19 semanas, e desejo mais que ardentemente ter um parto vaginal, de preferência sem anestesia. Por isso o motivo de eu ter amado esse relato de parto, de saber que ainda tenho chances, que eu posso conseguir realizar o meu sonho e acabar com um dos maiores traumas da minha vida! Paraéns a esta mãe, por tanta determinação e perseverança. Espero conseguir isto como vc conseguiu. Orem por mim. Sou a Rafaela, mãe do lindo e perfeito Samuel (2 anos e 7 meses) e a espera de uma linda princesa. Beijim a todas!

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